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6.3.02

Assunto: [forum_teatro] (unknown)
Data: 05/03/2002 20:10:13 Hora padrão leste da Am. Sul
From: (Igo Ribeiro)
To: forum_teatro@yahoogrupos.com.br


O atorzinho

Existem vários tipos de atorzinhos: aqueles que surtam que são artistas só porque "levam jeito pra coisa"; aqueles que alguém surta dizendo pra eles que eles são artistas; aqueles que são filhos de artistas mas nem por isto são também; aqueles que são bonitinhos e ao invés de fazerem curso de modelo e manequim, a mamãe bota num cursinho de teatro; aqueles que não querem nada com a vida, então vão fazer teatro; aqueles que querem ir pra Globo a qualquer preço; aqueles que começaram a andar com "gente de teatro", acharam bacana e resolveram tentar; aqueles que piram na maionese, surtam na batatinha, comem muito cocô e acham a parada muito maneira, a maior viagem...

Bom, se você se enquadra numa destas situações, então você é um atorzinho. Mas não se preocupe, você não está só! Na verdade, em cada esquina desta cidade maravilhosa você encontrará um parceiro, um ombro amigo. E se sua intenção é se aprimorar cada vez mais neste ofício, aqui vão umas dicas:

1. Matricule-se imediatamente num curso caríssimo de "Interpretação pra tv" com qualquer diretor famoso. Todo final de semana o jornal divulga uns quatro. Escolha o seu!!!

2. Matricule-se no Tablado DE QUALQUER MANEIRA. Mas não se incomode em prestar atenção às aulas e ouvir o que tanta gente experiente e bacana tem pra lhe dizer, apenas esteja lá.

3. Deixe seu currículo em montes de agências que anunciam no jornal, acredite piamente que vão lhe chamar pra trabalhar.

4. Faça um monte de eventos, recepções, animação infantil e recreação para garantir sua sobrevivência.

5. Não leia, afinal você tem pouco tempo.

6. Esteja sempre nos lugares da moda e nas festinhas badaladas como se isto fosse muito importante.

7. Nunca tenha opinião sobre nada, não critique, não arranje confusão, engula muito sapo. Você nunca sabe o dia de amanhã... Você pode precisar das pessoas...

8. Fuja de grupos de pesquisa e peças sem patrocínio, isto não chega a lugar algum.

9. Entre na academia onde a "tchurma" malha e vê se consegue se enturmar.

10. Faça-se sempre de humilde, mesmo quando estiver sendo sacaneado ou humilhado, todo mundo sabe que é falso, mas "pega bem".

11. Vá às estréias. O importante é ser visto.

12. Faça qualquer coisa para tirar o seu registro: montes de pecinhas infantis babacas adaptadas de filmes da Disney, Projetos Escola imbecis pra fuder mais ainda a cabeça desta geração, pontinhas em programas humorísticos, muita figuração, filme pornô rural, QUALQUER COISA pra tirar este maldito registro que não prova porra alguma e nem garante caralho algum.

13. Sorria, seja bacana com todo mundo e tenha muita fé. Se você acreditar nos seus sonhos , eles vão se concretizar, o universo todo conspirará a seu favor e blá blá blá...


Igo Ribeiro é ator e etc e tal, e como todos, luta para não acabar um atorzinho...

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Assunto: [forum_teatro] "ingresso de classe"
Data: 04/03/2002 01:07:36 Hora padrão leste da Am. Sul
From: (mariozinho)
To: forum_teatro@yahoogrupos.com.br

Pelo que lembro foi alí pela década de oitenta que institui-se o "ingresso de classe", porque, antes, vivíamos um sentimento mais definido de família do teatro como se refere a Camila, era tradicionalmente franca a entrada de qualquer artista ou estudante de arte; nas boates, músicos que dessem canja não pagavam para beber e comer, como também, atores podiam ter gratuidades em alguns restaurantes e outras "regalias", facilitadoras da dura vida de artista, que, talvez alguns membros do forum ainda lembrem...

Estou falando das décadas de 60 e 70.

A famosa frase da Cacilda é de um período anterior, período de afirmação do teatro profisional no Brasil, da definição de produtores e da comercialização dos seus produtos que, naturalmente, não foi dirigida aos integrantes da "classe".

Justamente no período dos 80 a "classe" passou a aumentar muito, surgiram muitas escolas de teatro a despejar montões de novos artistas a cada seis meses, o mercado profissional desdobrou-se em novas áreas e o sentido de classe vem sendo diluido, particularizado, fragmentado, desde então...

Por outro lado, no período anterior, a ida a um espetáculo cumpria a função de um exercício de cidadania e de participação social, frequentemente aconteciam acalorados debates, a cidade transpirava os acontecimentos de cada uma daquelas casas e era possível com um banquinho e um violão, faturar o troco do aluguel numa bilheteria de teatro (Juca Chaves que o diga!).

Sofremos uma brusca mudança em nosso destino e temos atualmente as grandes corporações completamente instaladas em nossas vidas; durante algum tempo fomos capazes de resistir, graças ao nosso respeito mútuo (apesar das diferenças que sempre existiram) e o sentido definido de auto-preservação da classe acima de tudo, acima, até de um governo militar ditatorial absoluto e obscuro; resistíamos com a nossa corrente humana, mantivemos o "nosso jeito de ser", preservando a identidade íntegra do artista diante dos absurdos, dos desmandos e das artimanhas do poder.

Com toda a fragmentação perdemos a nossa propriedade participativa, voltamo-nos exclusivamente para as nossas produções e para as produções do nosso gueto, ao passo que, o público não está necessáriamente dividido nas mesmas tribos e trips, ele busca a diversidade, enquanto que, como classe, vamos desperdiçando a oportunidade de oferece-la com o teatro, reconhecendo apenas "o que é espelho", o que, para o público, representa pura mesmice.

O fato é que uma produção não pode resolver-se com o meio ingresso da classe, não é assim que se resolve a coisa, isso acaba virando uma autofagia e só contribui para uma fragmentação ainda maior de um meio profissional onde falta intercâmbio.

Alguns recursos como sessões, festas e eventos pró-produção, são viáveis e usuais, aí, aqueles que dispõe podem exercer a sua solidariedade, contribuindo.

Tanto a sessão para a classe, quanto o passe livre para os artistas são benéficos a qualquer temporada, em respeito a todas as opiniões colocadas sobre o assunto, essa é a minha.

abraços e beijos

mario---------------------------------------
(http://www.ilhagrande.com)




Assunto: [forum_teatro] Políticas para as artes cênicas
Data: 06/03/2002 18:16:11 Hora padrão leste da Am. Sul
From: (Maria Teresa Amaral)
To: forum_teatro@yahoogrupos.com.br

Ficamos aqui discutindo - e sempre é bom discutir - a respeito de nossas
atitudes com relação às promoções e convites.
Depois da intervenção de Isis Baião julguei que não cabia escrever para
dizer: "Concordo", porque não acrecentaria nada à discussão. Mas obviamente
sou a favor de ingressos baratíssimos para alunos de escolas de teatro ( nos
meus espetáculos custam 1,00 ) e mesmo para jovens atores.Quanto aos que já
tem estrada - meia é de tradição. Fazê-lo é poupar-nos trabalho no futuro,
quando formos trabalhar com estes jovens, que muitas vezes quase não vão ao
teatro, não sabendo o que fazem nossas boas atrizes, atores, diretoras e
diretores e até nossas não tão felizes produções, porque é preciso ver de
tudo para saber julgar.
Mas este email é pra dizer que esquecemos da parte mais importante: não
vamos nos aperfeiçoar, pesquisar, fazer espetáculos arriscados, com autores
desconhecidos, atores que, muitas vezes, não fazem, ou quase não fazem TV
e não estou dizendo que não há ótimos atores na TV ), interiorizar o
teatro,se os nossos governos, em todas as instâncias, não investirem no
teatro de maneira planejada, metódica, visando o longo prazo, pagando a
tempo e a hora o que prometeram. Se não houver investimento em formação de
profissionais e plateia, informação, divulgação, investimento em grupos,
companhias, sedes.
Não, não é esmola. O teatro dá empregos, muitos, e principalmente mantem a
cultura de uma nação ( diferente de pais ) unida, mesmo e necessáriamente
respeitando as diferenças ( não estou falando aqui da maldita identidade
cultural ). E é pela cultura viva que se resiste ao genocídio cultural - um
dos efeitos mais doentios da inevitável globalização, se ela não for
encaminhada como quer, por exemplo o pessoal todo que se reuniu em Porto
Alegre.
A França considera a cultura o único item inegociável na Organização Mundial
do Comércio. A ponto de, querendo proteger sua agricultura teorizou-a como
cultura - por seus resultados nos queijos, vinhos e outras comidas e bebidas
que constituem-se partes da cultura francesa.
A França ganha muitíssimo dinheiro com cultura - é uma das primeiras fontes
da receita francesa.
A França, depois de anos de investimento, conseguiu que, em 2001, 40% do
público francês assistisse a filmes franceses.
Se algum de vocês se derem ao trabalho de entrar no site do Ministério da
Cultura francês vão achar num mapa o impressionante número de centros
culturais, em suas mais diversas formas, inclusive escolas, espalhados por
toda a França, que é apoiado pelas diversas instâncias do governo francês.
Tem até uma história engraçada, que me contaram: um pessoal invadiu um
prédio do governo francês e está sendo posto pra fora. Mas em vez de só
morar lá, eles fizeram um centro cultural. Daí o governo, põe eles pra fora,
mas, enquanto isso, dá dinheiro pro centro cultural.

Lugares pequenos como o Margarida Rey, ou o Centro Cultural do grupo
dirigido pela Ana Maria Nunes - Carmo, por exemplo, receberiam, na França,
as honras da visita de uma comissão composta por vários ministérios - me
lembro do da Cultura e se não me engano da Economia Solidária, mas eram
três. Esta comissão faz uma monografia detalhadíssima sobre o lugar e suas
necessidades e o governo - apoia. E mais, considera que é destes lugares que
virá a renovação da arte francesa, também os considera determinantes para a
intergração da sociedade francesa.
Disse tudo isso para explicar que não vai ser dando mais ou menos convites -
discussão super válida -que vamos resolver o problema do teatro no Rio de Janeiro. Mas votando emgovernantes que sejam menos obtusos quanto às políticas culturais.Infelizmente estamos em falta, por aqui. Porque também, só organizados podemos garantir a continuidade de políticasculturais corretas.

E por favor ninguém venha me dizer que este típo de política será enterrado
com o "estado-abundância" e que é como as aposentadorias: um problema. Se os argumentos pacíficos não convenceram vocês, pensem na importância
estratégica que tem a cultura na luta dos USA para conservar sua hegemonia.

E nós não vamos resistir?
Não precisamos, nem devemos, ser xenófobos, basta fazer boa arte. Já é uma
p... resistência.

Maria Teresa Amaral














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