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22.1.03


Dramaturgia brasileira em Londres

Seis textos participam da primeira mostra brasileira de dramaturgia promovida pelo Royal Court Theatre, a mais tradicional instituição européia de incentivo à dramaturgia no mundo. Destaquei esta notícia pela sua atualidade,no momento em que estão acontecendo vários encontros no Rio e em São Paulo para discutir a dramaturgia brasileira, conforme a matéria do Jornal do Brasil, de terça-feira passada. Além disso, foi iniciado um debate lá no Forum de Teatro com o Dinho Valladares e a Isis Baião. Isso vai render. E essa notícia aqui no Estadão contraria os prognosticos mais pessimistas sobre a falta de autores, e mesmo de oficinas de dramaturgia.

São Paulo - New Plays from Brazil (Novas Peças do Brasil) é o título da primeira mostra de dramaturgia brasileira em Londres, promovida pelo Royal Court Theatre, a mais tradicional instituição européia de incentivo à dramaturgia no mundo. De 16 a 20 de janeiro de 2003, será realizada mostra de leituras dramáticas, em inglês, de seis peças produzidas em São Paulo e Salvador, acompanhadas de debates, com a presença dos autores selecionados. E não faltará um viés folclórico: um workshop de samba e apresentações de MPB e música afro-baiana estão na programação. O evento resulta da presença do Royal Court Theatre no País, desde 2001, com o apoio de parceiros como o British Council (Conselho Britânico), o Centro Cultural São Paulo e o Teatro Vila Velha, de Salvador.

Os autores selecionados são
Beatriz Gonçalves "Esvaziamento",
Pedro Vicente "Random" e Celso Cruz "Sete Vidas de Santo", de São Paulo; Cacilda Povoas "O Muro", de Salvador;
e Marcos Barbosa "Braseiro e Quase Nada", de Fortaleza.

As seis peças nasceram durante os workshops ministrados por diretores do Royal Court em São Paulo e Salvador. O Royal Court Theatre, criado nos anos 50, é das mais importantes instituições do mundo no desenvolvimento do teatro de autor, e, desde 1989, colabora com novos diretores e dramaturgos de vários países. Dois dos autores selecionados, Marcos Barbosa e Beatriz Gonçalves, também participaram do Residência Internacional, promovido anualmente pela instituição, congregando autores emergentes da África, Ásia, Europa e América do Sul.

Por e-mail, de Londres, a diretora internacional do Royal, Elyse Dodgson, disse que um dos critérios para a seleção (entre cerca de 16 peças participantes) foi "refletir a diversidade de temas e formas". Elyse destaca que este é o primeiro evento exclusivamente brasileiro promovido pelo Royal. A mostra de dramaturgia integra o projeto Dramaturgos Internacionais, que já incluiu França, Alemanha, Espanha e Rússia, antes do Brasil.

Ao contrário do que chamamos no Brasil de ´processo colaborativo´, em que autor, diretor e atores se reúnem na sala de ensaio buscando a excelência do espetáculo, no Royal, há uma sinergia em torno do texto teatral, diz Beatriz Gonçalves, que em "Esvaziamento" mostra as conturbadas relações de amizade e amor entre dois casais. Bia conheceu métodos de trabalho, testou cenas na sala de ensaio e participou de encontros com autores de textos montados no Brasil, como Patrick Marber (Mais Perto) e David Hare (Ponto de Vista).

O maior ganho que esse evento pode nos trazer é o reconhecimento da qualidade da produção dramatúrgica brasileira por uma instituição desse porte, opina o jovem dramaturgo cearense Marcos Barbosa, de 25 anos, selecionado com as peças Braseiro e Quase Nada. Cansa-me ler notas de jornal atestando que este ou aquele ator ou diretor brasileiro foi para os EUA ou Europa à procura de textos para montar. Se o evento servir para mudar essa prática, o ganho já será imenso.

O coordenador cultural do British Council no Brasil, Stephen Rimmer, destaca que o projeto continuará em 2003, possibilitando o acesso de mais dramaturgos brasileiros às técnicas e idéias do Royal Court Theatre. Rimmer acredita que serão priorizados os jovens autores. Também confirmou mais um parceiro brasileiro no projeto, o Sesi. "No Centro Cultural, serão ministradas as oficinas para os autores e, no Sesi, deverão ocorrer as oficinas para diretores e as montagens dos textos." Rimmer ressalta que o número de participantes do workshop poderá aumentar de 10 para 25 participantes.


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