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14.9.03

Um mestre bonequeiro que partiu

Fiquei triste com a notícia da morte do Alvaro Apocalypse, em Belo Horizonte, na semana passada. Ele deu uma contribuição definitiva ao desenvolvimento dessa arte rara que é o teatro de bonecos, como criador e como professor, repassando seus conhecimentos para várias gerações de bonequeiros. Espetáculos como "Cobra Norato", "A Bela Adormecida", "As Relações Naturais" entre outros espetáculos do GrupoGiramundo, ganharam as platéias do mundo, apresentando-se em festivais, e em temporadas nos teatros da Europa e EEUU. Eu tive a oportunidade comprovar isso, em Washington num festival da UNIMA, e na França.

Embora reconhecido internacionalmente, aqui era pràticamente ignorado pela mídia. Há alguns mêses atrás vi uma entrevista do Alvaro com o seu grupo no Jô Soares, e fiquei chocada com a ignorância desse entrevistador -- também ator, autor e diretor teatral -- sobre o teatro de bonecos, e também com o tratamento dispensado por ele ao Alvaro e aos integrantes do grupo.

A importância do grupo, várias vezes premiado, a sua trajetoria nacional e internacional passaram em negras nuvens. E para turvar mais ainda, teve uma apresentação de cenas curtas de um texto difícill como "As Relações Naturais", do Qorpo Santo, também sem maiores explicações, passando uma imagem destorcida do espetáculo do Giramundo.

Para não dizer que não falei de flores, o teatro de bonecos nesse programa, fugiu um pouco ao estereótipo da mídia, que vê o teatro de bonecos como aquela coisinha bonitinha, engraçadinha, para encantar crianças e adultos, já que o texto do genial Qorpo Santo manda ver na sexualidade, com muito erotismo, sensualidade, e o grupo escolheu as cenas mais picantes da peça.
Bem, o grande mestre bonequeiro partiu, mas eu acredito que as sementes plantadas pelo seu nobre espirito continuarão a dar ótimos frutos.


Cena do espetáculo "Cobra Norato" do Giramundo Teatro de Bonecos.

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