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5.12.04

UM ATO DE RESISTÊNCIA

O povo sabe das coisas e foi à luta (sem eufemismo) das senhas desde as dez horas da manhã, enfrentando horas de fila e uma chuva fina que caiu durante toda a tarde de ontem, para ouvir música barroca composta há quasi trezentos anos pelo músico francês Joseph Bodin de Boismortier (1689-1755), resgatado graças à pesquisa do músico americano Tom Moore, integrante do grupo "Le Tromphe de l"Amour". Essas músicas foram gravadas pelo grupo nos EUA, e A Casa Discos foi responsavel pelo lançamento aqui no Brasil, em primeira mão, ontem, no Museu da Republica. E no próximo ano, o disco será exportado daqui pela A Casa Discos, para os EUA

Cheguei antes das sete, não conseguí lugar, o Salão Nobre do Museu da República, já estava com a lotação esgotada, mas haveria uma segunda sessão, e esta seria realizada na varanda do Museu. Não estava sòzinha, nessa espera, pois até a mãe do Serginho -- músico produtor do concerto, não conseguira lugar. Costumo chegar bem cedo em eventos dessa importancia, e com entrada franca, mas eu fui informada que o concerto seria ao ar livre, nos jardins. Portanto, eu pensei que teria lugar suficiente. Ledo engano.

As senhas começaram a ser distribuidas antes das seis, e já tinha gente na fila de antes das duas horas. E ainda soube por uma funcionária do Museu, que algumas pessoas que leram no Globo estavam lá as dez horas da manhã, formando fila para assistir o concerto. Desestimulados da longa espera, foram onvidados a voltar á tarde, e informados que as senhas seriam distribuidas a partir das seis horas -- uma hora antes do espetáculo.

Um concerto extra

Entre o público da segunda sessão, tinha alguns convidados especiais, mostrando o convite impresso, e que não conseguiram entrar. Só entrou quem esperou horas na fila. E mesmo assim, algumas pessoas reclamavam que enfrentaram a fila desde cedo, na esperança de sobra eventual de algum lugar, e l'ambience ficou tenso.

Para acalmar os ânimos desse público que esperava em pé e enfrentando uma chuvinha fina no patio em frente á varanda, teve um concerto de flauta de um jovem e talentoso aluno da Laura Rónai, o Márcio (esquecí o sobrenome dele, anta que sou) que interpretou lindamente os concertos de Telleman. Agradou a galera. Foi aplaudídissimo.

Uma celebração à arte, à vida, e à paz

Mais de duas horas em pé e na chuva não significam nenhum esfôrço diante do momento raro e emocionante que foi o privilégio de ouvir aqueles músicos maravilhosos,
competentíssimos, (a Laura Rónai é feríssima -- tem o sôpro da alma) com pleno domínio do seu métier proporcionando ao seu público -- crianças, adultos, adolescentes (até eles, concentrados e com as carinhas maravilhadas) das mais variadas classes sociais, todos ali irmanados em um momento de beleza, de vida e de humanidade.
Um momento de paz, de serenidade, nessa cidade cada vez mais violenta.
Através da arte, uma forma de resistir à violência cotidiana -- um verdadeiro ato de resistência.

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