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31.8.03

CULTURA SE FAZ NA RUA

Desde a semana passada, mais de trinta grupos de circo, música, teatro, dança, em mais de setenta espetáculos estão se apresentando nas praças e ruas do Rio até o final do ano, e de graça, dentro do projeto patrocinado pela Prefeitura do Rio, "CULTURA SE FAZ NA RUA".
Um dos objetivos do projeto é tornar alguns pontos da cidade verdadeiros "palcos de rua", onde o público sabe que vai encontrar algum tipo de espetáculo.

" A ocupação dos espaços urbanos pela arte é uma tradição em vários lugares do mundo. A população do Rio tem uma vocação pública tremenda. As principais festas da cidade são ao ar livre, como o Carnaval" ,
disse o ator, palhaço, bailarino João Carlos Artigos -- também diretor e um dos fundadores do Teatro de Anônimo, em entrevista ao Globo.

E esta escriba, tem o prazer de verificar que esse projeto é a cara do Teatro de Anônimo, bem como disse o poeta Flavio Nascimento, homenageando o Teatro de Anônimo (quinze anos de atividades completados no ano passado)
no "Manifesto Transversal":
Um teatro panorâmico
Multidirecional
Tudo pode acontecer
a qualquer momento
em qualquer lugar...

Rua do Mercado, 45 -- Praça Quinze.
Sex a dom, das 16h às 22h. Entrada franca.

Post post scriptum: Sabe a foto daquele cirquinho publicada aqui nesta página, é só rodar a barra de rolagem aí do lado direito (viu destros) rolar, rolar e rolando chega-se lá na foto. Pois é, agora esse fantástico circo está armado ali mais ou menos em frente do número 45 da Rua do Mercado -- Praça Quinze (atrás do CCBB).

As batutas do Flor do Chorume, o Cordão do Boitatá e a Velha Guarda da Portela na sexta próxima, e oficina do grupo de mulheres (boneca negra sem cola ou costura) da Cooperativa Abayomi no sábado, e todas as apresentações do Teatro de Anônimo, eu sei que não vou perder.
Vamos nessa que é bom á bessa!

RUA DO MERCADO, á altura do número 45. Praça Quinze.
05/09, sexta-feira: 20h Cordão do Boitatá; 21h30 - Números Circenses
22h - Flor do Chorume convida Jair do Cavaquinho da Velha Guarda da Portela

Dia 06/09, sábado: 16h Grupo Off Sina;
17h - Oficina Abayomi e às 19h Os Fulanos.

07/09, domingo: 16h Rally Circo Show,
17h - Oficina de Circo e às 19h Teatro de Anônimo.

Dia 12/09, sexta-feria: 20h Fuzarca da Lira e 21h30 Números Circenses

Dia 13/09, sábado: 16h Divino Emaranhado,
17h Oficina de Cacuriá e às 19h Palhaço Bicudo.

Dia 14/09, domingo: 16h Valdevinos de Oliveira,
17h - Oficina de Circo e às 19h Teatro de Anônimo.

LEIA MAIS o restante da programação nas praças e bairros da city no site do Teatro de Anônimo.

E o segundo Flash Blog tá no ar lá na Funny Valentine até hoje á meia noite. Vai lá
agitar!
Millôr Fernandes

O Jornal do Brasil mandando beleza conseguiu -- coisa rara -- uma entrevista com o Mestre Millôr Fernandes. Atenção gALLera antenada, é dessas matérias para ler, reler, guardar para tornar a ler e reler. Altos toques de um Mestre sobre a nossa arte. Valeu JB!

25.8.03

EVGEN BAVCAR -- O DON QUIXOTE QUE REGISTRA SONHOS

Acabo de chegar da exposição de fotografias e do lançamento do livro "O ponto zero da fotografia" de Evgen Bavcar, o fotografo, cineasta, pesquisador, teórico de arte, filosofo -- doutor em Filosofia da Estética pela Univ. de Paris, nascido em 1946 na Eslovênia, ex-Iugoslávia. Bavcar que mora em Paris, ficou cego aos 11 anos.
Estou ainda impactada. As fotos de rara beleza, um poema em cada foto. Os nus femininos são dos mais belos que eu vi em minha vida. Vendo essas fotos eu entendí o que ele disse há dois anos atrás quando esteve aqui para um ciclo de conferências no CCBB, e que eu tive o privilégio de assistir e anotar alguns trechos:
Quando faço retratos, dou às pessoas fotografadas a possibilidade de olharem para o infinito, por detrás da máquina fotográfica não existe controle, uma outra pessoa a todo momento a vigiar o olhar do outra. Disse mais:
Os homens jogam sempre com as imagens que captam das coisas. Eu ao contrário, capto imagens da transcendência, da escuridão, já que vivo imerso nela. Sou uma espécie de Dom Quixote que registra sonhos
Além da exposição, teve uma sessão especial do curta metragem "Os modelos". Outra surprêsa: uma fotografia e uma estética moderna, bons atores. Poderia ter sido feito por qualquer cineasta contemporâneo.

Bavcar é um jovem senhor de barbas grisalhas, muito simpatico e elegante, com aquela elegancia dos homens parisienses, terno preto, chapéu preto e um lenço de lã vermelho-vinho enrolado no pescoço, óculos claros, falou ao microfone, em bom portunhol apresentando a sua exposição, deu muitos autógrafos e entrevistas.
E esta escriba num ataque de timidez só foi ter coragem de se aproximar dele, no fim da festa, quando ele estava na última sala de exposição rodeado por algumas poucas pessoas, para pedir um autógrafo e conversar um pouquinho com ele. Ganhei um autógrafo e mais um cartão postal com sua foto e com dedicatória. Falei sobre a sua fala no CCBB, ele riu e completou: "Don Quixote era cego só tinha olhos para Dulcinéa e eu tenho olhos para os sonhos"

UPDATE: A exposição do Evgen Bavcar está na Galerias do Centro de Artes da FUNARTE, Rua da Imprensa, 16 -- mezanino do Palácio Gustavo Capanema.
De segunda a sexta-feira,das 10hs.às 18hs. Até 12 de setembro de 2003.

Amanhã, sexta-feira, às 11hs. o fotógrafo estará conversando informalmente com o público no SESC de Niteroi, e às 20hs. outro encontro informal com entrada franca, na Casa da Gávea.

Evgen Bavcar esteve ontem palestrando na Maison de France no ciclo de conferências "Muito além do espetáculo", organizado por Adauto Novaes, sobre o tema "Os enganos do visível", e na terça, em Curtiba, na abertura do evento nessa cidade. O ciclo acontece no Rio e em Curitiba e encerra no dia 25 de setembro.


Foto de Evgen Bavcar

24.8.03

Concurso Narrativas Breves Haroldo Maranhão
Detalhes aqui no blog da nossa queridíssima Meg.
Espero que ela prorrogue o prazo. Muito curto, Meg.
PSP: Vou ficar devendo o banner do concurso. Não estou conseguindo postar imagens aqui.

Primeiro Flash Blog Mundial

Vai rolar na próxima terça feira, dia 26, o primeiro flash blog do planeta. Absurdidade matutada pelo Matusca -- o cavalo do Qorpo Santo. Copiei na íntegra lá do blog do venerado-venerando.

As regras do 1º Flash Blog são:

- Escolhemos o Flash Blog da semana;
- Avisamos ao coitado do dono;
- Ele publica um flash post - seja lá o que isso for - e deixa lá por 24 horas;
- No dia marcado TODO MUNDO visita o infeliz e deixa comentários NAQUELE post (bastante);
- O flash-bloguento escolhido tem que responder a TODOS - um por um;
- Ele escolhe e avisa ao condenado da próxima semana e assim vai, tudo pro brejo;
Como diria o Brancaleone: EM MIM NÃO!
Já sabem: Qualquer omissão omitida nesta impostura será resolvida cá do meu modo.
Persistindo na via democrática, foi escolhido o dia e o endereço do 1º Flash Blog:
Dia 26, terça-feira, no Tempo Imaginário.
Sinto muito Angela, dançou!


POST-POST: Mais tarde quando eu conseguir baixar a imagem terá aqui um lindo selinho do evento. Obra e arte da conterranea Flavia do blog das cores.Sorry.

23.8.03

Sobre esta notícia de O Globo, quando o delegado Álvaro Lins, determinou que a 5ª DP (Mém de Sá) apurasse se o diretor Gerald Thomas cometeu ato obsceno ao arriar as calças em público, durante a ópera "Tristão e Isolda", na noite de sábado passado no Theatro Municipal. Segundo o delegado, o objetivo é saber se o ato tem correlação com o evento artístico ou se foi um desrespeito aos espectadores.

Para mim, essa atitude do delegado é no mínimo estranha. Fiscalizar uma obra de arte ou um evento artístico e correlatos, não tem nada a ver com as funções de uma autoridade policial. Ele devia, isso sim, mandar apurar a atitude de todos aqueles ensandecidos que gritaram judeu volta para o campo. Ato explícito de discriminação racial proibido pelas nossas leis, além do desrespeito e agressão ao povo judeu. É na ampliação dessas vozes que começa a cumplicidade com o genocídio, assassinato e toda aquela história de horrores não tão distante do nosso tempo. Ampliar a nossa memória é preciso perante fatos como esse.
O Clown, o Down e a força do afeto

Tudo o que tenho aprendido sobre palhaço diz respeito ao idiota, a verdade, ao diferente , a ser como os normais não são, ver o mundo ao contrário, a importância do amor, do afeto, a tocar o coração de outro ser humano com o poder da pureza e da verdade. Esse tem sido o nosso aprendizado tanto na teoria quanto na prática. Treinamos muito tecnicamente para sermos os idiotas, diferentes e especiais. E lá fomos nós com nosso espírito missionário de palhaços sem fronteiras para levar um pouco desse mundo idiota num evento da APAE.
Chegando lá, éramos apenas mais uns entre tantos paspalhos de verdade. Ali, nenhuma técnica fazia sentido, de nada adiantavam os números ou o estado. Só o que fizemos foi nos render àquela verdade e brincar com eles. Ficou mais claro para nós por que eles são chamados de especiais. A diferença podia até ser a maquiagem, mas tinham alguns que também estavam maquiados de palhaço. Para um observador menos atento, não daria pra distinguir quem era o clown e quem era o down.
Temos muito o que aprender com eles, são seres iluminados.

Depois de tanto tempo longe de casa, saudade, carência, tantas oficinas, tanto cuti-cuti e uma tarde entre os especiais, essa questão do afeto bateu forte. Fomos acachapados. Jeca chorou umas quatro vezes hoje. Acho que eu também. Sei lá o que que é isso, acho que tá misturando todas essas coisas. Mais que tudo é o poder da verdade, do ser humano. É muito doido sair de um lugar pra outro deixando esse rastro de afeto. Ainda tem muito chão pela frente. Amanhã estaremos indo pra Cascavel.


Este comovente depoimento é do FABRICIO DORNELES, circense, ator, clown, webmaster, montador de circo, e o escambau. Fabricio acompanha o MÁRCIO LIBAR no projeto "Palco Giratorio" do SESC, conforme notíciei alguns posts abaixo aqui no blog. Esse fato aconteceu em Francisco Beltrão, no Paraná.

Saiba tudo sobre esta surpreendamental excursão aqui no site do projeto Mundo ao Contrário.
Márcio, Jeca e Fabrício, agora eu tô cantando, parodiando aquela musiquinha: Chorei, chorei, tornei chorá, olha os palhaços no meio da rua...

21.8.03

Potins teatrais

1. As cuecas verdes e as cuecas pretas do Gerald - Gerald Thomaz mostrou as partes para os músicos da Orquestra do Teatro Municipal. Estes foram privilegiados com a parte frontal, quando de frente para os músicos arriou as suas cuecas -- verdes -- e depois virou de costas para a platéia, deixando á mostra a sua dérrière. A performance de Gerald Thomaz aconteceu no palco do Teatro Municipal como já foi amplamente noticiado, depois da apresentação de Tristão e Isolda sob a sua direção, quando metade da platéia o aplaudia e a outra vaiava. Além disso, do balcão nada nobre vinham gritos de "vigarista", etc. e tals não faltando o clássico xingamento à mãe do diretor.
Depois do espetáculo, no camarim, ele recebeu os cumprimentos de vários amigos. Entre eles, a sua ex-namorada, a Giulia Gam, que comentava ter gostado da ópera mas das cuecas verdes, não. Ao que ele retrucou prontamente: as pretas estavam todas lavando.

2. Flash Mob dirigido pelo Gerald na Central do Brasil - Comenta-se nos bastidores que o famoso diretor vai organizar o segundo Flash Mob carioca. Os participantes vão mostrar as partes na Central do Brasil, as seis horas da tarde. Os atores do Teatro do Oprimido não serão convidados. Eles podem estragar a festa confundindo com a técnica do Teatro Invisivel, e o evento tomar rumos inesperados. Esta escriba está na torcida para ser convocada. Vou chamar os meus colegas que ralaram comigo o ano passado todo lá na UNIRIO no curso de bufão, e ainda não conseguimos apresentar o nosso trabalho porque não saiu a verba que concorríamos para tal.

3. Flash Mob carioca disfarçou-se de intervenção urbana - E o primeiro Flash Mob do Rio foi organizado por um diretor teatral que chamou o evento de "intervenção urbana" para disfarçar a idéia importada de gringo. E ainda ameaçou continuar as "intervenções" até outubro -- no dia do aniversário do Che Guevara conforme declarou à imprensa chamada para a cobertura do evento. O JotaBe e O Globo deram a matéria sobre o evento com foto na primeira página, mas não informaram uma linha siquer sobre a trajetória do diretor teatral Marcus Faustini. Até descobrir quem era o tal do diretor estava pensando que era um oportunista qualquer, algum diretor teatral sem o menor currículo, batalhando os seus minutos de fama. Não é bem isso. O Marcus Faustini é professor de teatro na CAL, e dirigiu entre outras peças "Capitu" e "Eles não usam black-tie" com o Eduardo Moscovis. Esta última, eu vi e gostei do trabalho desse diretor, principalmente da direção de atores.

4. O que deveria ter sido e não foi - Esse do Faustini, seria o segundo Flash Mob carioca, se os internautas covocados tivessem comparecido pela manhã ao FUNDÃO para doar sangue, onde estava marcado o primeiro Flash Mob carioca. Não compareceu viva alma.

5. Os deuses do teatro protegem os bufões - O elevador do palco do Teatro Municipal que despencou ontem em cima dos cantores do Coral Calíope, ferindo sem gravidade duas cantoras, tinha 97 anos, segundo declarou a Helena Severo -- Secretaria Estadual de Cultura e presidente da Fundação Theatro Municipal -- que conota a idade à causa da queda do elevador. Dona Helena saiu pela tangente, mas foi direta na crítica à performance do Gerald, engrossando o côro dos descontentes, chamou de "gesto inadequado". E nesse incidente, eu fico pensando que o Gerald correu sérios perigos, se esse elevador antecipasse sua queda em cinco dias e resolvesse despencar na hora do espetáculo do Gerald. Por essas e outras eu acho que os deuses do teatro protegeram o diretor e aplaudiram a sua ópera bufa. Eu também, eu também ... bien sûr.

17.8.03

Flash Mob, Hackers, Teatro do Oprimido e o Teatro Infantil de Marionetes de Porto Alegre

O que têm a ver entre sí os personagens do título acima? Tudo. E muito mais.
Eles são significativos representantes de manifestações artístico/politico/culturais/tecnologicas através da história. Cada um deles, no seu momento histórico foram os subversivos da vez. A diferença, se existe alguma, é que os "flash mobs" de hoje seriam os chamados rebeldes sem causa de ontem, e os hackers, esses são feras soltas prontas para invadir e barbarizar -- agora na real -- o circo armado na selva das cidades.

Flash Mob chega ao Brasil

Essa idéia importada da Europa e dos Estados Unidos, onde esse movimento acontece há algum tempo, consiste em manifestações relâmpago em locais públicos. Os participantes são mobilizados pela internet através de e-mails, listas, foruns, e celular. Reunidos, fazem em conjunto a primeira gracinha que vem à cabeça, e em minutos se dispersam. Tudo muito rápido, divertido e indolor. São Paulo tomando á frente na importação da idéia, realizou na semana passada, o primeiro Flash Mob em nosso País, organizado por artistas virtuais, web-designers, fotografos, blogueiros, etc., entre eles, um conhecido blogueiro paulista. Tomei conhecimento do movimento e dessa primeira convocação, através do InternETC, blog da antenadíssima Cora Rónai.

Hackers -- um Flash Mob dentro de um Flash Mob.

A estréia do movimento no Brasil não contava com a fúria internáutica dos hackers, que cansados do seu brinquedinho virtual, vieram brincar na real, e estragaram a festa. Durante o tumulto relâmpago, no centro da cidade de São Paulo, um bando de adolescentes invadiram a manifestação aos gritos de YOU LOSE! e com cartazes de protesto, Eu já sabia!, Contra burguês, baixe MP3, fazendo um autêntico ato de sabotagem real/cultural para desespêro dos organizadores que ficaram em segundo plano.
A mídia correu atrás dos calças curtas, preterindo os donos da festa.

UPDATE: E o Jotaesse, sempre alerta para as novidades, mandou essa hoje para a lista lista de discussão dos blogueiros:
" Convite e Instruções para o FLASH MOB Brasileiro em Sao Paulo, SP
Av. Paulista, A ESQUERDA do numero 900 (predio da "Gazeta - Objetivo")
em frente ao telão junto a parede esquerda do predio.
Domingo, 17 de agosto, as 15h ...".
Detalhes: http://br.groups.yahoo.com/group/brasilflashmob/message/209


O Teatro do Oprimido e a "pegadinha intelectual" doTeatro Invisível

O Teatro do Oprimido, movimento de teatro politico criado por AUGUSTO BOAL, quando esteve exilado, nos anos setenta, tendo conquistado adeptos pelo mundo afóra, apesar de contestado aqui, e eu me inclúo entre os discordantes do método. Apesar disso, é inconteste a importancia de Boal para o desenvolvimento do moderno teatro brasileiro. Utilizando a linguagem teatral como instrumento para intervenções politico/sociais nas ruas, praças, ou qualquer outro lugar público ou privado, Boal criou a técnica do Teatro Invisivel. Nessa técnica, os atores, sem se identificar como tal, distribuidos pelo espaço da intervenção que pode ser no metrô ou qualquer outro local publico ou privado, provocam uma determinada situação de cunho politico/social, e deixam rolar todas entre o desavisado público.

O TIM e a mobilização boca-a-boca nos anos de chumbo

O Teatro Infantil de Marionetes -- TIM, grupo de teatro de marionetes, de Porto Alegre, dirigido pelo ANTONIO CARLOS SENA em plena repressão, nos anos sessenta, apresentava na Rua da Praia, entre outros locais públicos, um subversivo teatro de marionetes como forma de resistência ao regime vigente. Por motivos óbvios, a organização e a mobilização eram feitas no boca-a-boca -- telefone ou qualquer outro meio de comunicação, nem pensar. Qualquer falha na mobilização, e seus integrantes corriam todos os riscos. Os militares como bons filhos da pátria ficavam espertos para qualquer lance que cheirasse à subversão. Alguns participantes do grupo do TIM ficavam espalhados pela área da representação teatral -- olheirosespertos, capazes de ver e sentir de longe o cheiro da repressão. E não há exagêro nessa afirmação, porque eles eram os responsáveis pela segurança do grupo, avisando de qualquer suspeita na área para uma retirada estratégica do local, antes da chegada da polícia da repressão.

Entre os integrantes do TIM, o jovem estudante universitário MARCO AURÉLIO GARCIA, (atual ministro para assuntos internacionais), o jovem aspirante do CPOR de Porto Alegre, FERNANDO PEIXOTO (o conhecido ator, diretor teatral e um dos fundadores do Teatro Oficina) e mais o jovem estudante universitário ANIBAL DAMASCENO (o conhecido professor Anibal, escritor, pesquisador, um dos descobridores de Qorpo Santo) eram os autores dos suversivos textos do TIM.

Em tempo: O Teatro Infantil de Marionetes, o TIM de Porto Alegre, apesar de pouco conhecido em nosso País, tem uma respeitável carreira com apresentações no exterior, e prêmios em importantes festivais internacionais. Foi criado há mais de cincoenta anos pela artista plastica Odila Sena -- mãe do diretor do grupo. E o Antonio Carlos Sena tem ainda no seu brilhante curriculo, a direção da primeira montagem de Qorpo Santo, o genial autor gaúcho, considerado o precursor do teatro do absurdo.

14.8.03

IL PRIMO MIRACOLO

Este blog tem o prazer de anunciar a chegada ao Rio, do espetáculo "Il Primo Miracolo", do texto de DARIO FO -- Prêmio Nobel de Literartura 1997. E esta escriba esperava a vinda ao Rio desde que tomou conhecimento desse espetáculo através do forum de teatro, e de uma visita do Birindeli a este blog. Com direção e atuação do ator gaúcho ROBERTO BIRINDELLI, responsável também pela adaptação, a peça estréia nesta quinta no Planetário da Gávea -- Teatro Maria Clara Machado, e fica em temporada até o dia 24.

Na cena, os instrumentos utilizados são apenas o corpo e a voz do ator, sustentados por uma pesquisa de anos sobre a presença cênica do performer. Birindelli traz influências da Antropologia Teatral, inspirado principalmente no trabalho do dinamarquês Odin Teatret.

O espetáculo está há 10 anos em cartaz, já rodou vários países, todas as capitais brasileiras, excetuando-se o Rio, e diversas cidades do interior do País. O espetáculo foi visto por mais de 50.000 espectadores em 280 apresentações.

Sobre o espetáculo disse Sergio Salvia Coelho, crítico da "Folha de São Paulo":

(...)Sem figurino, trilha ou cenário, dirigindo a si mesmo em mais de 20 personagens, em um espetáculo que percorre há mais de dez anos os teatros do mundo, Roberto Birindelli faz valer o que há de mais nobre no teatro popular ao compartilhar
a fábula de Dario Fo, na qual Cristo menino promove uma seminal reflexão sobre preconceito e poder.

Com a indignação mascarada pela irreverência,
e sobretudo com uma generosa cumplicidade com a platéia,
"Il Primo Mirácolo" promove a mais emocionante defesa
da fé verdadeira desde o "Tartufo" de Molière.

Molière que, como Goldoni, sabia servir tanto a corte
quanto os cidadãos. Porque não importam tanto
os recursos ou o endereço do espetáculo:será sempre pleno o palco em que pisam atores como Roberto Birindelli.


Local: Teatro Maria Clara Machado - (Planetário)
Endereço: Rua Padre Leonel Franca, 240. Tel. 2239-5948
Data: 14, 15, 16, 17 e 21, 22, 23, 24 de agosto
Horário: de quinta a sábado às 21hs e domingo às 20hs
Preço: R$ 10,00 e R$ 5,00 para estudantes e idosos
Duração: 1 hora
Capacidade: 135 lugares

COISAS NOSSAS

Na semana passada, no DETRAN aqui da Vila Isabel, a vistoria e documentação 2003, foi feita em meia hora, e sem estresse como no ano passado quando implicaram até com o som da buzina do Abelardo -- meu carro. Documentação atualizada, fui dar um rolê pela área. No tempo de Noel, o local era uma estação de bondes da Light -- a pioneira linha de bondes que unia a Praça 7 ao Centro. A estação, um dos empreendimentos do fundador da Vila Isabel, o Barão de Drummond, mineiro de Itabira, e de quem descende o poeta Carlos Drummond.

Os sinais dos trilhos dos bondes ainda estão lá visíveis em alguns lugares, e a parte da estação também com aquela fileira de colunas que compõem a plataforma e o teto da estação ainda podem ser vistos na sua construção original. Em dezembro do ano passado teve uma grande festa no local quando o arquiteto Oscar Niemeyer foi homenageado. Na ocasião, ele entregou ao Martinho da Vila o seu presente para o bairro de Vila Isabel: o projeto arquitetônico da quadra de ensaios da Escola de Samba Vila Isabel.

Viajei no tempo, reportando-me à época do poeta da Vila, e fiquei imaginando o movimento de bondes com os seus motorneiros e condutores, os seus passageiros como a operária da fábrica de tecidos, o malandro, os seresteiros, os garçons impacientes, o guarda-noturno, o gerente impertinente, leiteiros, padeiros, vendedores ambulantes -- os prestamistas vigaristas -- que visitavam frequentemente o chalet modesto para cobrar as dívidas de Noel.

O menino Noel ia para o colégio, pegando carona de bonde. Espertamente pulava para o estribo do bonde parado no ponto. O bonde andando, e ele correndo pelo estribo, de balaustre em balaustre. Um dia, a sua mãe, Dona Martha de Medeiros Rosa o flagrou na arriscada acrocabacia. Para desespêro de sua mãe, havia ainda outro sério perigo: o de ser confundido com os moleques do bairro.

...............................................................................................................
Do bairro diz Noel, no seu diario:

Quando penso no Boulevard, nas ruas pacatas que guardam os meus melhores segredos, nas esquinas prediletas para a reunião da turma que aprendeu a fazer samba vendo sambar o arvoredo, o meu coração, incuràvelmente sentimental, bate descompassado como um tamborim tocado por estrangeiro. E eu vou alongando o pensamento e vou pensando que a cidade inteira é Vila Isabel...

(Trecho do diario de Noel retirado do livro NOEL ROSA -- UMA BIOGRAFIA. Autoria do jornalista João Máximo e do pesquisador e cantor Carlos Didier, o Caôla ex-integrante e fundador do Conjunto Coisas Nossas.
Esse livro consumiu de seus autores oito anos de extensa pesquisa. Um livro indispensável para quem se interessa pela música popular brasileira).

10.8.03

AS MÃOS DE MEU PAI
As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já da cor da terra
--como são belas as suas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da
nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza
que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços da
tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas ...
Virá dessa chama que pouco a pouco, vieste
alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los
contra o vento?
Ah, como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das
tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos
nodosas...
essa chama de vida -- que transcende a própria vida
... e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.

MARIO QUINTANA (1906-1994)
Bundinha na bandeja

As aulas do curso livre de expressão e conscientização corporal com a Mestra Angel Vianna são muito especiais. A começar pelas pessoas que frequentam essas aulas -- sempre lotadas -- apesar do horário: de uma hora da tarde até duas e meia. Entre elas, tem desde professores da Escola e da Faculdade e alunos já formados que vão fazer uma reciclagem, até alunos que fazem essas aulas no curso livre há mais de dez, quinze ou quasi vinte anos vinte anos. Eu faço aulas com ela desde 1987, só interrompidas quando morei fóra, e depois quando voltei e fui direto para o profissionalizante. Mesmo assim, à essa época, quando eu arranjava um tempinho, ia correndo "filar" uma aula da Mestra.

E entre esses alunos do curso livre, profissões e faixas etárias as mais diversas, dos 18 aos 80 ( uma daquelas alunas mais antigas, completou 80 anos, há um ou dois anos atrás), alguns atores, profissionais liberais, aposentados, donas de casa. Para quem não sabe, ela dá aulas também no curso livre, além de dar aulas na Faculdade, e no último ano da formação em dança contemporânea e recuperação motora.

E o mais incrível disso tudo, é que a aula dela acontece em em todos esses níveis. Para mim, por exemplo, além da reciclagem, é a oportunidade da pesquisa do movimento, que nas suas aulas acontece naturalmente. Mestra é Mestra.

Na semana passada, teve uma aula daquelas antologicas, com varas de bambu massageando e tocando algumas partes do corpo. Durante as suas aulas, ela costuma criar imagens e inventar algumas nomeações muito peculiares para melhor entendimento na execução dos movimentos. Depois de vários alongamentos e toques com o bambu na região sacro-bacia, ela mandou esta:

" sorria não só com a cara, sorri com a bundinha... solta a essa região aí"

Em outra hora lá, sentados em cima da vara de bambu estendida no chão, veio outra:
"não é para despencar, a bundinha tem que estar confortável aí, como se estivesse numa bandeja. Sente os ísquios, alonga os ísquios...coluna ereta, não levanta os ombros".

E nesse tom descontraído e com toda essa simplicidade, assim acontece uma uma aula de expressão corporal com a maior autoridade no assunto em nosso País: Doutora Angel Vianna -- título de Notório Saber pela Universidade Federal da Bahia.

Mico histórico
Eu só fui sentir os ísquios, depois de quasi três anos de aula com ela no curso livre. Antes, eu sentava em cima do trocanter, achando que estava sentada nos ísquios. No dia que a minha propriocepção funcionou, é que eu fui sentir a sutil diferença. Diante da fantástica descoberta, eu não me contive e fiz o maior estardalhaço na hora, aos berros eu anunciava a minha descoberta para os colegas atônitos. Dos muitos micos que eu já paguei lá na Angel, este ficou indelével na minha história pessoal.



7.8.03

Deixa histórica I

... para um partido de esquerda no poder, seu mais sério antagonista é sempre a sua própria propaganda anterior.

Assim falou o GEORGE ORWELL (escritor de 1984 e A revolução dos bichos

Deixa histórica II

Do PAULO LEMINSKI, no seu romance-idéia Catatau:
Outro era eu quando não coincidia com as circunstâncias. Porque isso? Isso não é coisa que se faça. Nada me justifica. Estou á disposição de tudo. Eu era tanto, tanto faz: quanto tempo estou falando disso? Pura perdição de ilusão. Brasilia nunca vai começar a ser viável. Só do que falo, falar: minha mitologia, minha lógica. Nunca tudo. Mais vale um gôsto de vinho, mais serve um vintém cunhado, cambia?
Desistúrbio, Brasília me leva longe !


Deixa histórica III

De ZÉ CELSO MARTINEZ CORREA, sobre o personagem Hamlet:
Ele fica em dúvida, não por ser indeciso, mas por não querer o jôgo da máquina do poder. Porque há mais formas de viver o desejo entre o céu e a terra do que gostaria o nosso vão conformismo.
MOITARÁ AVISA AO POVO QUE FICA
Por e-mail recebí agora do Venício Fonseca e corro para dar a ótima notícia.

O GRUPO MOITARÁ tem o prazer de informar que a temporada do
espetáculo "IMAGENS DA QUIMERA", no Centro Cultural da Justiça
Federal, foi prorrogada até 30 de agosto, com a mesma
programação: quinta a domingo, às 20:15h.


Todas as quintas feiras o ingresso do espetáculo "IMAGENS DA
QUIMERA" pode ser trocado por 1kg de alimento não perecível,
para contribuição do projeto FOME ZERO.

O espetáculo começa pontualmente e não será possível a entrada
após o inicío da apresentação.
Se você estiver no Rio de Janeiro, apareça!

Um forte abraço e até breve
GRUPO MOITARÁ
http://grupo.moitara.sites.uol.com.br


Maiores informações:
21) 25 10 88 48 ( teatro )

5.8.03

A regra secreta

Desoriento-me
Sem qualquer
Método
Ou sem
Qualquer fim
Vou e não vou
Mas vou
Caio sem qualquer
Alarde
O que é
E não é: mas é
Desorientar-me
É meu antimétodo.

Poema de Sebastião Uchôa Leite.

Salve o poeta Sebastião, tradutor e dos bons, escritor, letrista e parceiro de "Os Mutantes", entre outras artimanhas. Meu amigo e parceiro de muitas lutas, a
minha gratidão -- essa palavra tudo -- sempre.