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27.3.03

Hoje, Dia Internacional do Teatro -- Dia T -- Manifesto pela Paz nos Arcos da Lapa, a partir das dezesete horas

Oração para o DIA T

... que a nossa presença pacífica, de branco, dedicando o Dia
Internacional do Teatro e Dia Nacional do Circo, o nosso DIA T, à causa
da paz mundial, ecoe mais forte e mais distante do que todas as bombas e
canhões;

... que a nossa simples presença seja uma grande festa pela Paz, que a
nossa leitura conjunta da a letra da música A cidade dos artistas de
Henriquez, Bardotti e Chico Buarque Cidade dos Artistas, nossos cantos,
danças e preces, nossa singela cerimônia, leve aos quatro cantos do mundo
a nossa mensagem!!!

... que a partir das 17:00h estejamos chegando e ocupando o espaço dos
Arcos da Lapa com as nossas atividades artísticas, distribuindo-nos
pelos diversos pontos do espaço com números, cenas e performances, para
convergirmos às 19:00h ao grande encontro em que faremos a(s) nossa(s)
leitura(s), cantaremos nossos cânticos e nossas orações pela paz,
marcando com a simplicidade das nossas intenções a comemoração do nosso
dia!!!

... que nessa hora, das 19:00h, acendamos velas e tochas para
iluminarmos o nosso ato e as nossas intenções!!!

... que convidemos todos os nossos amigos, vizinhos, familiares e
companheiros de trabalho a virem conosco de branco participar do
Manifesto de Paz no Dia T!!!

... que ao voltarmos possamos levar conosco, para nossas casas, do nosso
encontro, alguma esperança em nossos corações, de arte, de paz e de
futuro!!!

Nós artistas cênicos, do Rio de Janeiro, juntamente com nossos movimentos
e entidades, Fórum Virtual de Teatro Brasileiro, Fórum da Artes-Rio,
SATEDRJ, FETAERJ, SBAT, convidamos toda a população a participar do
Manifesto de Paz no DIA T, nos Arcos da Lapa, nesta quinta feira, dia 27
de março de 2003, a partir das 17:00h; iremos de branco para não passarmos
este dia em branco, com velas para serem acesas às 19:00h.

Assim falou em oração o diretor e ator Mariozinho Telles.

(Mais um furto lá do Forum de Teatro)

.
Novas diretrizes em tempos de Paz

Estou em estado de graça, de afetos e perceptos, de bençãos dos deuses do teatro, fui assistir hoje (quarta-feira) a premiada peça do Bosco Brasil com o Toni Ramos e o Dan Stulbach Novas diretrizes..., no luxuoso auditorio da EMERJ - Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro -- em uma apresentação especial, abrindo as atividades culturais dessa instituição. Ao final do espétáculo, um raro presente: debate com o autor, os atores e a diretora do espetáculo.

Novas diretrizes em tempos de Paz é o encontro de um funcionário do serviço de imigração e um polonês em busca do seu visto de permanência no Brasil ao fim da Segunda Guerra. O que acontece a seguir é um delicado diálogo entre dois seres humanos solitários que necessitam da Arte para o resgate da sua humanidade. Fiquei chapada com o espetáculo, e há muito não me comovia tanto. A abordagem comovente do teatro como resgate da emoção e do afeto, do teatro que nos faz lembrar que somos seres humanos. A peça é uma celebração à vida, à arte e ao teatro.

Meu avô paterno era imigrante polonês chegado aqui na Segunda Guerra, e pela primeira vez na minha vida, fiquei imaginando o que ele deveria ter passado para conseguir o seu visto de permanência. E eu via o meu avô (eu aprendí a falar polonês com o meu avô, desde as minhas primeiras palavras) até no sotaque encarnado no personagem do Clausevitz, o imigrante polonês interpretado brilhantemente pelo ator Dan Strulbach. As inseguranças, o medo do personagem poderiam ter sido as mesmas do meu avô ao enfrentar situação semelhante a do personagem.

Voltarei ao assunto da peça para falar da minha reconciliação com o "teatrão", a partir desse espetáculo.

Um agradecimento muito especial à minha querida amiga blogueira, Cora Rónai, a primeira pessoa que me deu o toque sobre esse espetáculo, quando comentou lá no InternETC a respeito.

25.3.03

Sobre "O Atorzinho" - depoimento do jovem ator Rafael Rodriguez

É pura verdade o que o Igo escreveu. Fui no ano passado procurar um curso legal no Rio e só encontrei cursinhos água com açúcar (não eram ruins, o problema é que a maioria dos alunos estavam ali para aparecer e falar que é melhor que o outro, o pior era e é ver criança assim). Estava muito triste e frustrado com isso tudo... fiz interpretação para vídeo, etc... Até que na semana passada encontrei um curso muito bacana de formação profissional e o melhor sem ser caro.
* Este depoimento do Rafael estava aqui no comentários do Teatro ETC & Tal, ele fala por si, corroborando o texto do Igo Ribeiro. Rafael Rodriguez é ator e blogueiro. É o criador do ótimo blog a escada onde ele posta os melhores textos sobre teatro. Aquela aula de teatro do ator Rubens Correa postada aqui eu peguei lá no blog do Rafael.
* Esse post da Rosinha-Sadam foi um presente do David. Foi criado especialmente para o meu blog. Estreiou aqui. Se alguém quiser levar, sinta-se á vontade.
David Lima é ator (formado pela CAL) blogueiro, webdesigner, poeta dos bons e escritor. Escreve muito bem, tem textos teatrais, ainda inéditos. É o jovem (apenas 21 anos) mais velho que eu conheço. Impressionantemente maduro para a sua idade, inteligente, bem informado. É o meu mais recente amigo de infância. Gosto muito de trocar idéias com ele. Estamos sempre conversando pelo ICQ, trocando idéias sobre a guerra, teatro, artes e artistas e amigos em comum.



23.3.03





Exceções à regra
Não estou postando mais notícias de cursos e oficinas porque estou mudando a cara deste blog. E mesmo porque depois que abriu o site Tramedia, do meu amigo Edu Castanho, ator e webmaster, não teve pra mais ninguém. Arrasou geral. É o mais completo noticiário de teatro.

Estou publicando a Oficina do Bufão porque é ministrada pela minha Mestra, a Juliana Jardim. Comecei o trabalho de bufão com ela no Nucleo do Ator, na UNIRIO, de maio a novembrodo ano passado. A partir de dezembro, fevereiro até hoje estamos na Fundição Progresso, preparando o trabalho que iremos apresentar em julho.

E a publicação da nota da oficina do Teatro Pequeno Gesto é uma homenagem ao diretor Antonio Guedes e à Fátima Saadi, criadores e fundadores do grupo. Acompanho o trabalho do Teatro do Pequeno Gesto desde a sua fundação. É um dos grupos mais atuantes, sérios e competentes, com um trabalho coerente e consistente. Aquela montagem de A Serpente de Nelson Rodrigues, foi antologica. Ví várias vezes, e merecia ganhar todos os prêmios teatrais do ano. E o Henrique IV de Pirandello, ví duas vezes.

E quanto à oficina da montagem de Medéa do diretor Vivaldo Franco , também não poderia deixar de postar aqui pelo trabalho sério e competente do seu diretor. Admiro a sua luta e persistência. Publiquei aqui no blog no ano passado, uma oficina ministrada por ele sobre mitologia grega, na íntegra, fiquei com pena de cortar detalhes, tal a qualidade da apresentação dos tópicos do curso. Ali já começava a aula.
Além disso, tem outro motivo especial, a minha amiga Sonia, , jovem e talentosa atriz, leitora assídua deste blog, eu quero que ela leia esta notícia quando veir aqui e vá correndo fazer a inscrição e o teste. Corre la Soninha.
Oficina de montagem para atores e jovens diretores

Com o objetivo de iniciar a pesquisa para o próximo espetáculo do Teatro do Pequeno Gesto, do Rio de Janeiro, o diretor ANTONIO GUEDES, fundador e diretor do grupo, realizará uma oficina de longa duração envolvendo atores e jovens diretores na discussão sobre cenas da peça Peer Gynt, de Henrik Ibsen.

A idéia é criar um espaço no qual experimentaremos várias possibilidades de leitura deste texto, por meio da construção física de pequenas cenas nas quais atores e diretores colocarão em prática suas idéias sobre as possibilidades de construção de Peer Gynt.

A oficina irá de abril a setembro. O resultado do trabalho será apresentado ao público em outubro, no Sesc-Tijuca, integrando o projeto Palco de Experimentação. A carga horária total será de 150 horas, com dois encontros semanais nos quatro primeiros meses, e três encontros por semana a partir de agosto.

A oficina custará R$ 100,00 por mês ou R$ 500,00 se for paga de uma só vez.
As aulas serão às terças e quintas de 10 às 13 horas, no Espaço Pequeno Gesto à Rua Aristides Lobo (em cima da Malharia Zarcos) - Rio Comprido - Rio de Janeiro.
Inicio do curso: dia 1 de Abril. Nao e primeiro de abril.
As inscrições estão abertas. Informações com Márcia - Tel.: 9784-8384
teatro@pequenogesto.com.br
marciaalves@pequenogesto.com.br

Medéa - Oficina de Montagem Teatral

A Companhia de Teatro Corpus in Scena Produções do Rio de Janeiro está abrindo inscrições para uma oficina de montagem teatral com o objetivo de preparar atores e atrizes para a pesquisa e estudo da Tragédia Medéia, de Eurípedes, com estréia prevista para agosto/2003.
As aulas serão as quintas e sextas-feiras no horário das 19:00 as 22:00 horas e sábados das 14:30 as 18:30 hs durante os meses de abril e maio e segundas, terças e quintas das 18:00 as 21:00 durante os meses de junho e julho. Os interessados deverão ter disponibilidade para viajar a partir de outubro/2003. Durante a oficina os atores terão aulas de:
- corpo: preparação corporal específica para a montagem;
- voz: treinamento vocal voltado para as necessidades dos personagens;
- interpretação: construção de personagens a partir de textos selecionados.

Estão sendo oferecidas 12 vagas para a oficina, sendo: 06 atrizes e 06
atores. Daremos preferência para a ocupação das vagas por atrizes acima de
20 anos e atores acima de 25 anos, sem limite máximo de idade.


A coordenação da oficina e direção do espetáculo resultante do projeto será
do diretor VIVALDO FRANCO. Os interessados poderão ter maiores informações
através do telefone: (21) 2222 4029.

18.3.03

Oficina O jôgo do bufão

O jôgo do bufão -- prática para o ator é o título do workshop que será ministrado pela atriz e pesquisadora paulista, Mestre em Interpretação pela USP, JULIANA JARDIM, na Fundição Progresso - Espaço 1 , no Rio de Janeiro, de 20 a 23 de março, tendo como público-alvo atores e estudantes de teatro. Vagas limitadas.

Este workshop propõe a Iniciação ao jogo do Bufão. O worshop leva o participante a entrar em contato com o estado da máscara, a partir de suas caracterizações físicas básicas e da paródia pela via do grotesco.

Local: Fundição Progresso - Espaço1 - Rua dos Arcos s/n. - Lapa
de 20 a 23 de março
5a. e 6a. das 19:30 as 22:30 horas sáb. e dom. das 10 as 15 horas
Público alvo: atores e estudantes de teatro - 18 vagas - 15 horas.
Preço R$ 150,00 (cento e cincoenta reais).
Informações e inscrições com Fabiana celular 9795-9187

Juliana Jardim é atriz e pesquisadora paulista, Mestre em Interpretação pela USP com a pesquisa "O ator transparente". Co-autora do livro "Práticas do ator no Brasil" Editora Hucitec, 2003. Atriz de de "Madrugada", "Esperando Godot" , "Oração", "É o fim do mundo", "Péricles", entre outros.

16.3.03

O atorzinho
ou Como ser um atorzinho na vida

Primeiro: Matricule-se num cursinho da moda. Vale tudo: interpretação pra tv com diretor famoso, técnicas psicobiofísicas do teatro contemporâneo, acrobacia aérea no teatro elisabetano e qualquer coisa que entre Nelson Rodrigues. O importante é ser cult e ser caro, muito caro.

Segundo: Frequente o Baixo Gávea, o Posto 9, Santa Teresa (morar lá então é o must), qualquer show de forró ou chorinho (que tá na modinha) e a Lapa dia de semana. Estar nestes lugares em dias e horas extravagantes é a grande dica.

Terceiro: Chegue sempre atrasado em qualquer compromisso. Diga que estava num ensaio e complete com frases do tipo: - Ai, minha vida está uma loucura...não tenho tido tempo pra nada!

Quarto: Tenha amigos em todo lugar. Talento não abre portas. Seja sempre conhecido de fulano, ex-namorado de sicrana ou sicrano, primo de beltrano ou cunhado da filha do irmão do padrinho de qualquer pessoa. Se for filho de alguém então, você está feito!

Quinto: Aceite qualquer trabalho para tirar o registro. Vale tudo: não importa o número de peças infantís retardadas que você fez, junte tudo num envelope bem bacana, anexe umas declarações de uns cursos que você nunca fez, mas conhece o cara que deu, e garanta o seu passaporte para o sucesso!

Sexto: Faça muito "Projeto Escola" canalha. Junte um grupinho e monte uma pecinha sobre drogas ou ensinando criança a escovar os dentes ou cuidar da mamãe natureza. Ganhe muito dinheiro com isto e diga a todos que você, pelo menos, tá fazendo teatro!!!

Sétimo: Guarde suas opiniões sempre para você (se é que você tem alguma). Ator tem que ser bonitinho, carismático, mudo, surdo, cego e burro.

Oitavo: Não fique indignado quando aparecer outros na sua frente iguais a você, tirando o seu espaço. Isto se chama inveja e é muito feio!

Nono: Idolatre tudo que estiver na mídia. E ponto.

Décimo: Faça o esforço que for para ser visto em estréias concorridas e diga que recebeu o convite da produção. Vá com uma roupa bem chamativa, mas mantenha um ar de despojado... Antes da peça começar, fale com todos os conhecidos que encontrar para denotar popularidade. Quando sentar na cadeira, estale o pescoço e gire os ombros. Ator vive se alongando!

Pronto. Você já é um ator! Todos já lhe notaram. Está preparado para ser um astro! Se Almodovar ainda não lhe colocou num filme, é porque não lhe conhece ainda!
Como quem é Almodovar??? Mulheres a beira de um ataque de nervos, Fale com ela...
Ah, deixa pra lá!!!

PS - Esse texto é do ator, diretor e professor de teatro, o IGO RIBEIRO. Eu roubei lá do Forum de Teatro, onde está rolando ainda aquela discussão sobre a profissão de ator. Não resistí. O texto do Igo é genial, muito bem sacado e com muito bom humor. Mas também é ácido e contundente, a marca inconfundível do Igo, que quando entra no forum arrasa numa boa ou detona geral. Adoro ele. É brilhante. E torço pela sua carreira.

11.3.03

Sob o famíliar, descubra o insólito,
Sob o cotidiano, desvende o inexplicável.

Bertolt Brecht em "A Exceção e a Regra".

8.3.03

A diretora Maria Teresa Amaral responde aos "gênios da Broduey"

Como ando dando rumos novos a minha vida, leio o forum de teatro, mas pouco me pronuncio. Estou como que em hiato.

Mas me pareceu cumplicidade se eu não escrevesse sobre o meu repúdio, escândalo, e desprezo às palavras citadas, neste forum, a respeito de um teatro que o público não gosta, porque pendura pessoas no lustre e as faz berrar pelos chãos. Alicerçados no alto da sua ignorâncias, os ditos gênios da Broduvey, tão aguerridos que já deveriam estar nas fronteiras do Iraque babando, não entenderam ainda que a questão é como se usa o plano alto, o plano baixo, os berros ou o lustre: bem ou mal, com competência ou não. Quem usar sabendo sua profissão vai ter o público gostando.

Aliás tem gente que vai todo ano a Nova York, Londres e não aprende nem a montar musical careta. Cada erro técnico que a gente vê, meus deuses! Tem que prestar atenção pra copiar direito. Eu falo dos que fingem que não copiam tudinho, porque os outros tem os gringos na cola pra fazer tudo igualzinho.
E o Brasil, que podia ser o pais dos musicais com cheiro de louro, canela, outros temperos - tem boa música, já tem bons cantores-atores e bons bailarinos. É só juntar e inventar!

Mas, por falar em peça que, segundo estes senhores, não valeria absolutamente a pena montar, alguém viu 4.48 Psychose, com Isabelle Huppert, em S.Paulo? Eu vi na França, queria muito ir de novo, mas os ingressos acabaram em pouquissimas horas. Gostaria de saber o que acharam, porque foi das maiores emoções teatrais que eu tive nos últimos anos. Um deslumbramento.
Abraços aos que gritam e se penduram nos lustres com competência e emoção, ou procurando pelas duas.
Maria Teresa Amaral

PS. Esse e-mail foi postado dia 1/03/2002 no forum de teatro ( está rolando há duas semanas, uma acirrada discussão sobre a profissão de ator ) pela diretora Maria Teresa Amaral, atualmente morando em Paris, e de passagem pelo Rio de Janeiro. No final do ano passado, ela alugou o seu teatro, a Casa de Cultura Margarida Rey, em Copacabana) e saiu do País. Na ocasião da sua despedida, ela escreveu esse contundente depoimento sobre as razões que a obrigaram a abandonar todos os seus projetos de teatro.

FAMILIA QUE SE MUDA

Aluga-se a Casa de Cultura Margarida Rey, teatro com de 60 a 80 lugares, em Copacabana, projeto de iluminação feito por Jorginho de Carvalho, de modo que qualquer lugar do espaço cênico possa ser iluminado, porque as cadeiras e o palco são móveis. Quatro ares refrigerados, sendo que dois funcionando - o que já provoca reclamações da plateia, por frio demasiado. Quem conhece o lugar sabe com quanto amor foi feito e com quanto profissionalismo foi trabalhado.

(...) Não se pode trabalhar em teatro vendendo a cada vez um apartamento.
Alhures vamos, talvez, continuar a fazer teatro, mas pensamos, se preciso for, em nos dedicar únicamente à jardinagem. Preferimos o trato de flores, pomares e outras plantas à vida de mendicância, que o teatro nos obrigou a levar, nesta mui amada cidade, embora pai e avô nos tivessem deixado alguns haveres.
Levaremos conosco a presença solidária de todos os que trabalharam conosco, da categoria, que nos prestigiou, e do público, que já tinhamos formado amigos, apesar do descaso da maioria da imprensa, e dos assessores de imprensa.

É que trabalhamos, por assim dizer, num "nicho" que só sobrevive, no mundo inteiro, patrocinado pelo estado: o teatro profissional de grupo, com sede para o seu trabalho, cuidado de produção e tempo de ensaio limitado sòmente pela necessidade do espetáculo. Ora sabemos que não é este o caso nesta cidade, neste estado.O ótimo grupo, que conseguimos, depois de 5 anos de afinco continua junto no sonho de voltar a ver-se noutro lugar, noutro país.
A Companhia Instável de Teatro atravessa um tempo de instabilidade.
Mas nós, de verdade, estamos doídos, mas aliviados e cheios de esperança. Como quando um caso de amor se acaba e nos sentimos vazios mas plenos de liberdade e portas que se abrem.
Já nem estamos mais aqui - a cabeça longe e o corpo que tá indo.
Abraços
Maria Teresa Amaral
( que a vida inteira gostou de queimar os navios, pra nunca ter como voltar )."

4.3.03


* Esse post de Pocotó, postado aqui na íntegra, é a minha participação no forum permanente de debates do COMUNIQUE-SE -- o maior portal de encontro de jornalistas brasileiros. A discussão lá está acirrada, rolando desde a quarta-feira da semana passada na seção EM PAUTA, sobre o artigo do jornalista, escritor, cartunista e publicitário Luciano Pires, com o título: A baixaria dominou tudo ( tá tudo dominado) .
Trouxe aqui para o blog pela pertinência do assunto. Vamos continuar aqui. Certo? Esse mesmo artigo já foi publicado lá no Forum de Teatro, mas sem muita repercussão.

Pocotó, Lacraia e MCSerginho

Eguinha Pocotó é muito mais do que uma musiquinha sucesso do momento, ela é o retrato do nosso Pais, ela é a nossa cara, com todos os nossos problemas politico-socio-culturais-educacionais. Desculpem a obviedade, mas é isso aí. A gente fala muito do óbvio, mas não pensa o óbvio -- ululante, como diria o nosso Shakespeare, o genial Nelson Rodrigues. Para o gôsto elitista, pequeno-burguês, o sucesso de músicas como essa, é ver o triunfo da vulgaridade, da
mediocridade, da imoralidade, etc. e tal. e todos esses parâmetros da nossa moral pequeno-burguêsa, acomodada e preconceituosa. Serginho, Lacraia, Pocotó mexeram com todos esses valores.

Agora, Pocotó, MCSerginho e Lacraia, vistos sob outra ótica, com um outro olhar, um olhar despojado de preconceitos e voltado para a compreensão e o entendimento, e com muito mais atenção para essa outra realidade, procurando ver além disso, como o estudante João Pequeno Bandeira de Mello falou aqui com muita propriedade, quando disse que não foi o Gugu e nem Faustão que deram o sucesso para eles. Eles batalharam essa conquista. Foi batalhada, conquistada palmo a palmo. Vi na internet, uma entrevista do Serginho e Lacraia no bate-papo do Uol, onde ele conta isso. Foi frentista, DJ, sendo que nessa última função foi onde tudo começou, "quando o baile tava fraco a Lacraia começava a dançar". Daí à composição foi um passo.

Conta também que sempre fizeram sucesso com o povão e as crianças - sempre elas, os nossos mestres, sem preconceito. Nessa entrevista, ele fala com muita honestidade o seu relacionamento-casamento com o Lacraia, há doze anos, e os preconceitos que ambos enfrentaram antes do sucesso. Só pelo fato de ter sempre assumido esse relacionamento, já é merecedor de todo o nosso respeito.

Não vejo televisão, por opção e algumas vezes por falta de tempo ( trabalho e estudo). Não vi esses programas, e nem ouvi no rádio, mas tenho acompanhado o ti-ti-ti em tôrno. Agora, depois do que a goiana Auri falou aqui, eu também tenho sangue mestiço, não posso ouvir nenhuma batida que já saio balançando o esqueleto, vou dar um jeito de ouvir logo.

Quanto a letra da eguinha Pocotó eu acho um primor de afetuosidade, carinho e delicadeza, quando manda beijinhos para a filhinha e a vovó. Adorei. Na entrevista ele fala que Pocotó foi feita para a sua filha, a Carol. A Carol, parece-me que é cuidada pela avó. Ele era casado, separou-se, e um tempo depois conheceu o Lacraia, na quadra do Salgueiro, aqui no Rio de Janeiro

Entre os valores abordados, vale ressaltar o companheirismo, sem discriminação de sexo ou classe social, quando canta que o cavalinho e o jumento levam a eguinha para passear. Vale mencionar que não foi esquecido aqui o amiguinho jumento (também chamado de burro) de outra classe social. Na hierarquia social equina, o jumento é considerado de baixa classe social. Além disso, a delicadeza, o carinho e o cuidado com a amiga, a eguinha Pocotó, levada junto com eles, para passear. Os quadrupinhos, têm um comportamento digno de elogios, e quantos bípedes pensantes mereceriam ser elogiados por um comportamento semelhante

Por outro lado, ele merece o respeito pela conquista do sucesso, nada fácil. Ralaram muito antes disso. Jornada essa duplamente díficil, considerando-se o seu assumido homosexualismo. Sou também atriz, bacharel em artescênicas, pela UFRGS, e vim para o Rio fazer teatro, e enveredei por outros caminhos por questões de sobrevivência. Portanto, eu sei muito bem o que significa ser artista, ou ter aspirações a tal nesse nosso País.

Quanto ao primarismo, etc. etal apontado nas letras, queriam o quê de um cara semi-alfabeto, sem nenhuma instrução ou qualquer tipo de orientação educacional ou cultural. Para quem não teve orientação, além do funk e dos bailes funks que ele adora, o seu gôsto é bastante eclético. Gosta de pagode, música sertaneja e música clássica. E declaro aqui que espero anciosamente as outras músicas da dupla para o próximo CD: " Cavalo da pata quebrada " - a resposta do cachorrinho, e " Cafetão de Puta Pobre ".

Finalisando eu quero dizer que nessa diversidade cultural de várias procedências e muitas tendências, tenho o maior orgulho e o prazer de constatar nesse cenário artístico-musical brasileiro, o grupo originário do município de Arco Verde - porta de entrada do sertão pernambucano, o Cordel de Fogo Encantado. Como muito bem disse o João P. Bandeira de Mello é inesquecível, principalmente quando o jovem vocalista e pandeirista do grupo, o Leirinha recita lindamente os versos de cordel nordestino. Lindo demais. Para complementar a a lista de músicos e compositores, postada aqui pela goiana Auri, o João, o Talis, Cyntia Cruz, Fabio de Mello e Marcos Farias, citarei os da antiga, Ismael Silva, Vadico, Assis Valente, Geraldo Perreira, Sinhô; da moderna geração Chico Science, Zeca Baleiro, entre outros; o cearense Fagner, os mineiros Wagner Tiso e o grupo instrumental Uakti; os gaúchos Ney Lisboa, Victor Ramil e Lupiscinio Rodrigues; os paulistas Adoniran Barbosa e Renato Teixeira; o baiano avô do rock nacional, o Raul Seixas e os geniais curitibanos, vanguarda da vanguarda, o "nêgo dito" Itamar Assumpção e o "tubarão" Arrigo Barnabé.
E para finalizar deixo aqui esse verso - o meu preferido - do poeta Octávio Paz:

Me olho no que vejo / como entrar por meus olhos / com um olhar mais puro / é todo o meu desejo.

1.3.03

Só até domingo

TEATRO EM CIMA E EMBAIXO DO PALCO: GRUPO SOBREVENTO COMEMORA 15 ANOS
ENCENANDO A PEÇA ‘SUBMUNDO’ A 80 CENTÍMETROS DO CHÃO NO TEATRO DO JOCKEY
um espetáculo onde os atores utilizam desde uma folha de jornal
para criar bonecos, até lenços que ganham movimentos, sempre falando de
questões relativas ao Terceiro Mundo, invariavelmente com linguagem
poética. O cenário revela a idéia de um mundo subjacente a um outro,
através da utilização de dois planos. A ação se passa sobre a estrutura de
ferro. Sua preparação, porém, tem lugar ao nível do chão, coberto de areia.
Por meio de alçapões se dá a comunicação entre os dois planos.

O Sobrevento, um dos melhores e mais importante grupos de teatro de bonecos do País, conhecido internacionalmente e várias vezes premiado no Brasil e exterior, encerra temporada no domingo do espetáculo Submundo, e inicia no segundo semestre uma excursão por vários estados brasileiros e encerra temporada em São Paulo. IMPERDÍVEL. Esse grupo eu recomendo de olhos fechados. Ainda não vi.


“É um espetáculo experimental, nada fácil tecnicamente e que explora muitas técnicas diferentes. Mas, todo esse desafio nos dá muito prazer”, observa Luiz Cherubini, fundador do Sobrevento com Sandra Vargas e Miguel Vellinho.

SUBMUNDO Coletânea de textos. Dreção: Luiz André Cherubini. Com o grupo de teatro de bonecos Sobrevento.
Teatro do Jockey/ Teatros do Rio: Rua Mário Ribeiro 410, Gávea — 2540-9853. Sex e sáb, às 21h. Dom, às 20h. R$ 10. 70 minutos.


UPDATE:

Um e-mail do diretor do Grupo Sobrevento, informa que o espetáculo continúa
até esse domingo, dia 9 de março.

Esta é a última semana para assistir ao espetáculo SUBMUNDO, do GRUPO SOBREVENTO, no Rio de Janeiro.

O espetáculo está em cartaz no Teatro do Jockey, com apresentações nesta
sexta e neste sábado, às 21h, e neste domingo, às 20h.

Submundo foi um dos quinze projetos selecionados pela Programa Petrobras
de Artes Cênicas e estará circulando por várias cidades brasileiras, entre
julho e agosto deste ano.
Maiores informações estão disponíveis no site do Sobrevento (http://www.sobrevento.com.br)

Abraços
Luiz André Cherubini