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30.9.03

Sob o signo de Rogério Sganzerla

O maior tititi na porta de entrada do Odeon BR. Os que não tinham convite nem ingresso batalhando para entrar, e eu -- me achando -- adentrando pelo tapete vermelho, sendo recebida pelos recepcionistas e pelos amigos. No saguão, Rogério Sganzerla, dava entrevistas, recebia abraços e carinhos dos amigos. Ele está convalescendo de uma operação na cabeça para a retirada de um tumor. A grande maioria não sabia que ele estava doente e estava usando cadeira de rodas, e para alguns foi difícil segurar esse tipo de emoção. Antes do início da sessão, falando com certa dificuldade e microfonia vigente, ele fez a apresentação do filme. A platéia toda levantou e aplaudiu de pé, homeageando um dos maiores diretores da atualidade e que marcou definitivamente o cinema brasileiro.
O sub titulo anti-filme cai bem porque ele é anti tudo, detona geral, mas sem perder o bom humor, debocha do próprio cinema e dele mesmo. Tem umas sacações e piadas geniais, numa estética dos anos 40 e 50, com a marca do talento e a competência do Rogerio Sganzerla. Da minha participação, como sempre, não gostei. Muitas partes cortadas, claro. Mas as pessoas que vieram me cumprimentar pela minha participação parece que gostaram. E no final da sessão, os atores, as atrizes (Helena Ignês, Camila Pitanga, Jill Sganzerla, Giovana Gold e esta escriba) e equipe técnica foram chamados ao palco para as apresentações à imprensa e ao público. Foi um afago e tanto para o meu ego. Muita emoção para uma noite, e tanta, que eu nem quís ficar para assistir a outra sessão com o filme sobre o livro do Chico, o "Benjamin".

27.9.03

Óia eu aqui nas telas: O SIGNO DO CAOS

O SIGNO DO CAOS:O ANTIFILME DE ROGÉRIO SGANZERLA está sendo apresentado no Festival BR.
Eu participei como atriz desse filme em maio de 1997. Eu caprichei no visual anos 50. Se a minha participação não foi muito cortada vai ser bem legal. O Rogério levou mais de sete anos para terminar esse filme. Nunca vi nem em copião. Cinema não é a minha praia, mas resistir a um convite do Rogério Sganzerla, quem há de.

Passa na segunda feira às 19 hs. no Cine Odeon BR na Cinelandia.

24.9.03

Saudação à primavera

Chegou a primavera. Vamos saudar a primavera. E a saudação completamente inusitada está aqui no Catarroverde, blog do Serjones Catarrento. Um Mestre.
Falando nele, atenção colegas bufos, clowns, circenses, e todos os cultores da arte da bobagem, já recomendei esse blog aqui. Depois não digam que eu não avisei.

23.9.03

O ATOR E O TEATRO DO SÉCULO 21

Quem lê esse blog sabe que desde a sua criação em dezembro 2001, eu venho batendo na mesma tecla, enfatizando o trabalho do ator do século 21, e o novo fazer teatral. E o Teatro ETC. & Tal sempre seguiu apoiando e destacando os espetáculos alinhados com as minhas idéias. Agora que os archives voltaram, eu andei relendo o que escreví nesses dois anos, a propósito de uma matéria que saiu aqui no Estadão -- uma entrevista com Hans-Thies Lehmann, professor da Universidade de Frankfurt, um dos mais importantes teóricos do teatro europeu. Ele veio ao Brasil para realizar um trabalho de uma semana, em São Paulo, com a Companhia do Latão, sobre a obra de Heiner Müller. Destaquei um trecho da sua entrevista pertinente com o meu pensamento:

(...)" Não estou seguro de que vá seguir existindo a representação teatral do jeito que a gente conhece. Desde Brecht, há a idéia de ir além da apresentação teatral, de acrescentar palestras, discussões, manifestações. Eu acho que a apresentação deixará de ser o centro do fenômeno teatral. Como a sociedade de comunicação produz uma quantidade inacreditável de representações, o teatro tem de procurar sua especificidade, que está na possibilidade de estabelecer comunicação, diálogo. "

Há muito a representação teatral no Brasil não é aquela "do jeito que a gente conhece", conforme refletiu o teórico e pensador alemão Hans- Thies Lehmann. O fazer teatral vem se modificando aqui no nosso País há alguns anos, e notadamente, a partir do final dos anos 80, havendo muitas formas de fazer teatro, dentro do teatro. Nenhuma outra arte incorporou tantas linguagens. Há outras formas de interpretação teatral, seja fazendo dança, mímica, circo, performance, teatro de marionettes, show -- o teatro abraça estas expressões artísticas num outro tipo de jôgo. O teatro é a essencia de tudo, e o jôgo teatral vai estar sempre presente, seja na dança, no clown, no mímico, no performer, etc. E o que eu quero dizer é que esse mix teatro, dança, circo, performance e que tais, é uma outra forma de fazer teatro dentro do teatro.

O fazer teatral é que vem mudando ao longo desses anos, ao ocupar outros espaços não convencionais de teatro, ao abandonar o palco italiano e a platéia convencional, e assim rompendo com algumas das mais importantes convenções do teatro como espetáculo. O teatro vai ocupar outros espaços, indo para as ruas, parques, praias, praças, calçadão, a bordo de avião, ônibus, barca, metrô, etc., mas o que vai prevalecer sempre em qualquer espaço é a arte da representação, da comunicação. Acho que é por aí, a reflexão...

E quando eu falo aqui desde a abertura desse blog -- vejam os archives -- no ator do novo milênio, estou falando de uma geração que está surgindo agora ávida de conhecimentos em busca da sua identidade artística. Eu sou de outra geração, mas tenho convivido muito com eles nesse longo aprendizado em busca da minha expressão artística.

E, essa nova geração, na procura da sua expressão, estuda técnicas de clown e outras artes circenses com os artistas do Teatro de Anonimo na Fundição Progresso; cursou a Escola Nacional de Circo; fez cursos de clown com o Mestre Dácio Lima (saudosa memória); curso de bufão com a Mestra Juliana Jardim; os cursos de clown, mímesis corpórea e outros do grupo LUME da UNICAMP; os cursos de dança contemporânea da Faculdade e Escola Angel Vianna; o curso de teatro da UNIRIO, UFRJ e CAL. Essa geração, está se preparando para dar o seu recado sem ficar presa a nenhuma dessas técnicas. Ao contrário, serve-se delas para buscar a sua expressão artística, quer seja nos espaços convencionais de teatro, ou fora deles.
O ator do século 21, rompe com as convenções do mundo do espetáculo, vai ao encontro do espectador, e onde o encontra, ele cria um palco, abre a roda e manda ver.

22.9.03

Papo na Redação do Comunique-se, adivinhem com quem

Famosa jornalista e blogueira, além de premiada autora teatral vai estar na próxima quarta-feira, dia 24, às 15 hs, no Comunique-se o maior portal de jornalistas do País, para um bate-papo informal com
os leitores.
Para quem ainda não sabe, foi ganhadora do Prêmio Mambembe Infantil 1986, pela autoria da peça Um, dois, três e já... No ano anterior, quatro indicações para o mesmo Mambembe, pela montagem da peça Sapomorfose com cenários do Millôr Fernandes. Detalhes do histórico dessas premiações aqui nos arquivos implacáveis do Artimanhas.
Acertou quem pensou nela, a nossa queridíssima Cora Rónai.
Nesse horário estou dando aula no trampo, mas gostaria de poder estar lá para fazer algumas pergunas óbvias, mas necessárias à autora de reconhecido talento e competência, que depois de uma breve e promissora carreira abandonou o teatro.

20.9.03

O V Flash Blog já tá rolando hoje aqui no Jornal do Blogueiro. Começa hoje a meia noite e vai até as 21 hs. de domingo. Artimanhas da animadíssima Mels.

19.9.03

MOMENTO ADOLESCENTE

Roubei do meu sobrinho Ernesto que roubou da Aline.
Festa de Jongo no Quilombo de São José na Serra da Beleza

Dia 20, sabado, no Quilombo da Fazenda São José, na Serra da Beleza, distrito de Santa Isabel, no municipio de Valença, (interior do Rio de Janeiro) grande festa de jongo com missa afro, roda de jongo, baile de calango, roda de capoeira, etc. em homenagem à inesquecível MÃE ZEFERINA, a grande líder espiritual e dona do jongo do Quilombo de São José, falecida no último mês de julho, uma das maiores representantes da cultura afro-brasileira.

O Quilombo da Fazenda São José da Serra é uma comunidade de 200 negros da mesma família que moram nessa terra desde a escravidão.

Todos os moradores vivem da agricultura de subsistência, em casas de barro com telhado de palha e preservam importantes manifestações da cultura afro-brasilieira como o jongo (dança de roda trazida de Angola pelos escravos considerada um dos pais do samba) e a umbanda.

Até seis meses atrás a comunidade não possuía luz elétrica. O candeeiro, o ferro à brasa e o fogão de lenha ainda fazem parte do cotidiano.

Informações pelos tels. 3852.0043 / 0053 ou 2531.9292.
e aqui no site do Jongo da Serrinha



Crianças da Escola de Jongo da Serrinha, numa aula.
Em tempo: Foi o Mestre Darcy da Serrinha (saudosa memória), o introdutor de crianças nas rodas de jongo, até então restritas aos adultos.

17.9.03

Estudo para montagem -- Peer Gynt, de Ibsen

A partir de um estudo prático sobre o texto PEER GYNT, de Henrick Ibsen, o Teatro do Pequeno Gesto vai apresentar uma série de cenas que torna concreta a pesquisa sobre a narrativa pela qual o espetáculo poderá optar.
Levando-se em consideração uma abordagem épica -- em contraposição a uma abordagem dramática -- Estudo para montagem terá o formato de uma demonstração de trabalho na qual Antonio Guedes e alguns alunos-diretores vão explicitar as propostas e aplicá-las às cenas que serão mostradas.

Cordenação Geral: Antonio Guedes
Diretora assistente: Joana Lebreiro
Alunos-diretores: Isa Vianna e Marco de Aquino

Atores: Alexandre Dantas / Ana Alkimin / Claudia Ventura / Cristine A'Gape / Fabio Gonzalez / Fernanda Maia / Kelsy Ecard / Márcia Alves / Maria Amélia /
Massê Lcordén / Pamela Jean Croitorau / Rafael Gnome / Thais Vaz / Vanessa Arruda / Viviane Rocha e esta escriba que vos tecla.

Estréia: dia 4 de outubro às 20 hs
Teatro SESC da Tijuca - Rua Barão de Mesquita, 539 Tel. 3238-2072
Horário e preços : às 20 hs aos sábados e domingos Ingresso: R$ 6,00
Todos os sabados e domingos, até o dia 26 de outubro.
Projeto Palco de Experimentação - espaço dedicado à investigação artística.
Os três paspalhos na Linha do Equador, esquina com o Rio Amazonas, número zero...

Vocês sabem onde fica esses confins do Brasil? Eu não sabia. Estou aprendendo muita coisa desse nosso Brazilzão, de sua realidade artistico-socio-cultural nos relatos do Márcio Libar que está viajando com o espetáculo-solo "O Pregoeiro" e ministrando oficinas. Os três paspalhos do título são o Márcio Libar, os seus dois assistentes nessa excursão, o Fabricio Dornelles (o Guma ou Fabrismo, representante do movimento ... (op's! é piada dos cara, hein) e o Reinaldo Facchini (o Jeca - cientista politico). Detalhes de todos os conteúdos (conteúdos é o que não pode faltar) aqui no blog diario do Mundo ao Contrário. Vão lá para aprender. Não resisto publicar alguns trechos:

***** Chegamos em MACAPÁ, cidade cortada pelo marco zero. A linha imaginária do equador divide o campo do estádio de futebol. É o único estádio do mundo onde no primeiro tempo você joga no verão e o segundo no inverno, ou vice versa. E pior que essa energia é bem concreta. Quem tá no hemisfério norte e liga a torneira de casa, o redemoinho de água roda no sentido anti-horário, já no sul roda no sentido horário. Não sei se é essa a sensação estranha que acontece quando a gente fica bem no meio da linha no marco zero ou se é coisa de viagem...
***** Isso sem falar na exuberância do Rio Amazonas que nos brindou com três noites de lua cheia seguidas. É isso mesmo, essa cidade que tem o seguinte endereço no mapa,
linha do equador, esquina com o Rio Amazonas, número zero, marco zero. Entenderam ou quer que desenhe?

***** Um fenômeno que ocorre todo dia no centro de Macapá. As andorinhas pousam nos postes quando a noite começa e ficam ali até o dia raiar. Ficamos achando que é um ponto de descanso na rota de imigração...o foda é passar embaixo e não tomar uma cagada...


"O Pregoeiro" na praça com direito à lua cheia e debate depois em mesa de bar

Santana é um município a 20 minutos de Macapá. Distância que no Rio poderia equivaler a um bairro do subúrbio. Embora seja mais pobre e menor, a realidade cultural é outra. São os artistas que estão ocupando os cargos importantes. (...)
Pra vocês terem um idéia no início do espetáculo não se via muita gente, mas logo dobrou da esquina um cortejo com palhaços e pernas de pau formados pelos artistas locais arrastando centenas de jovens que se misturaram a outros jovens, velhos, crianças, casais, skatistas formando uma roda absoluta e foi aí que o pregoeiro se consagrou mais uma vez, agora no seu habitat natural.

E assim o "Pregoeiro" se apresentou na praça cívica de Santana, sob a lua de lua cheia, para uma platéia de fortes traços indígenas. Foi ducaralho. E depois o debate foi feito numa mesa de bar, um dos únicos e o melhor debate da turnê, tal era o interesse da galera local em aprender e se reciclar.

16.9.03

Pelo Gerald, não pela bunda

16.Set.2003 | Fernanda, a grande Fernanda Montenegro, me telefona para falar de Gerald Thomas, que foi seu diretor, genro e continua seu amigo. Ela propõe que se faça alguma coisa em sua defesa diante dessa absurda situação em que se encontra. Na sexta-feira, 12, o Tribunal de Justiça do Rio aceitou denúncia contra ele. Antes, o Ministério Público lhe propusera um acordo: o processo seria arquivado se ele doasse cinco salários-mínimos a uma instituição de caridade. Gerald recusou porque isso significaria admitir a culpa.

Que culpa? A de ter mostrado a bunda após o espetáculo “Tristão e Isolda” que ele dirigiu no Teatro Municipal do Rio e que foi vaiado e xingado por parte do público. Nem Fernanda nem eu, nem o próprio, já arrependido, pretendemos negar que ele fez uma bobagem. Mas será justo transformar uma falta em crime?! O atentado de Gerald não foi contra a moral e os bons costumes, mas contra os bons modos e o bom gosto; não foi uma agressão moral, mas estética, já que a sua (dele) bunda não merece ser mostrada em público - aliás, nem em privado, mas isso não é problema meu.

Na audiência com o juiz, Gerald disse que não infringiu o artigo 233 do Código Penal, no qual foi enquadrado, argumentando não ter cometido ato obsceno em lugar público. “Não é normal condenar um artista pelo que ele faz no palco. É a castração da liberdade de expressão”. De fato, se é obscenidade passível de condenação mostrar a bunda num recinto fechado como ele fez rapidamente, como devem ser classificadas as cenas que se podem ver na televisão: a câmera passeando vagarosa e detalhadamente por vários recônditos femininos em filmes que são exibidos por certos canais da tv não tão tarde da noite?

Mas na terra da impunidade, em que a preferência nacional é a bunda, mostrada a torto e a direito até para vender o país lá fora, com uma polícia que não dá conta de prender nem a justiça de julgar os verdadeiros criminosos, os de colarinho sujo e os de colarinho branco, Gerald Thomas corre o risco de ser condenado e ir para a cadeia. Como se a Justiça não tivesse mais nada a fazer. Há processo mais ridículo do que esse?

Como somos cheios de cuidados com a nossa imagem lá fora - não gostamos nem de que se fale que aqui tem violência - fico imaginando a repercussão desse incrível caso em países onde Gerald tem o prestígio e a fama de ser um dos maiores encenadores do mundo, como a própria Fernanda já testemunhou ao percorrer cidades européias interpretando uma de suas peças, “The flash and the crash days”. Com 18 óperas encenadas na Europa - Viena, Frankfurt, Munique, Weimar, Copenhague - o criador da Companhia Ópera Seca é uma de nossas glórias culturais. Só não se vê isso com mais nitidez pela rejeição que ele provoca ao se esconder atrás de uma falsa arrogância para se defender de sua fragilidade emocional.

Com o discreto humor que não perde nunca, Fernanda tem uma tese que ajuda a explicar o absurdo do rigor hipócrita que está sendo usado nesse caso do Municipal. Ela acha que é a falta de costume. “Os Estados Unidos têm a tradição de mostrar a bunda em protesto”, explica entre risos. “Contra qualquer coisa, os americanos reagem mostrando o bumbum. Já nós, não temos essa tradição de mostrar. Temos a de dar”. Vai ver que é isso. Gerald, que é espada, errou de tradição.

Para manter o clima de humor, vou terminar citando o poema de Carlos Drummond de
Andrade “A bunda, que engraçada”. Diz assim: “A bunda, que engraçada./Está sempre sorrindo, nunca é trágica(...)/ Não lhe importa o que vai/ pela frente do corpo. A bunda basta-se./Existe algo mais? Talvez os seios,/Ora - murmura a bunda - esses garotos/ainda lhes falta muito que estudar”.

A cultura brasileira faz votos para que a Justiça se inspire em Drummond e trate esse caso ridículo sorrindo, não de forma trágica. Que não se impressione com a parte de trás caída e sem graça do Gerald, mas com a graciosa e divertida bunda dos versos de nosso poeta maior.

no mínimo ZUENIR VENTURA
Ecos da ópera bufa do Gerald Thomas

Na sua coluna de ontem aqui no JOtaBe o mefistotélico Gerald detona todas.

14.9.03

Um mestre bonequeiro que partiu

Fiquei triste com a notícia da morte do Alvaro Apocalypse, em Belo Horizonte, na semana passada. Ele deu uma contribuição definitiva ao desenvolvimento dessa arte rara que é o teatro de bonecos, como criador e como professor, repassando seus conhecimentos para várias gerações de bonequeiros. Espetáculos como "Cobra Norato", "A Bela Adormecida", "As Relações Naturais" entre outros espetáculos do GrupoGiramundo, ganharam as platéias do mundo, apresentando-se em festivais, e em temporadas nos teatros da Europa e EEUU. Eu tive a oportunidade comprovar isso, em Washington num festival da UNIMA, e na França.

Embora reconhecido internacionalmente, aqui era pràticamente ignorado pela mídia. Há alguns mêses atrás vi uma entrevista do Alvaro com o seu grupo no Jô Soares, e fiquei chocada com a ignorância desse entrevistador -- também ator, autor e diretor teatral -- sobre o teatro de bonecos, e também com o tratamento dispensado por ele ao Alvaro e aos integrantes do grupo.

A importância do grupo, várias vezes premiado, a sua trajetoria nacional e internacional passaram em negras nuvens. E para turvar mais ainda, teve uma apresentação de cenas curtas de um texto difícill como "As Relações Naturais", do Qorpo Santo, também sem maiores explicações, passando uma imagem destorcida do espetáculo do Giramundo.

Para não dizer que não falei de flores, o teatro de bonecos nesse programa, fugiu um pouco ao estereótipo da mídia, que vê o teatro de bonecos como aquela coisinha bonitinha, engraçadinha, para encantar crianças e adultos, já que o texto do genial Qorpo Santo manda ver na sexualidade, com muito erotismo, sensualidade, e o grupo escolheu as cenas mais picantes da peça.
Bem, o grande mestre bonequeiro partiu, mas eu acredito que as sementes plantadas pelo seu nobre espirito continuarão a dar ótimos frutos.


Cena do espetáculo "Cobra Norato" do Giramundo Teatro de Bonecos.

13.9.03

Cultura se faz na rua,
tem sensacionais atrações e de brinde, os palhaços do Anonimo apresentando um espetáculo de graça -- tudo isso no cirquinho armado mais ou menos em frente ao
numero 45 da Rua do Mercado - Praça Quinze - atrás do CCBB. Confere a programação aqui e vai á luta, chegando cedo para pegar as senhas para os 150 lugares. Biscoito finíssimo e de graça, quem não quer?

Palhaço Bicudo que foi hoje às 20hs.
Amanhã, sábado,
às 16 hs. tem Juliana Manhães no espetáculo solo "Divino Emaranhado".

Eu já vi e vou rever o belo trabalho sobre a cultura do Maranhão, numa pesquisa da atriz Juliana Manhães, minha colega do curso de bufão e do grupo de cacuriá e do curso de clown do Mestre Dacio Lima (saudosa memória).

17 hs. Oficina de Cacuriá com a Juliana Manhães.

Juliana foi uma das fundadoras do grupo DivinaCurriola -- hoje existente só na saudade -- do qual esta escriba teve o privilégio de fazer parte. Cacuriá para quem não sabe é uma dança do folclore do Maranhão.

19 hs. Grupo Fuzarca da Lira e seus músicos maravilhosos, espetáculo para todas as idades, com abertura d'O Charles com seu número na perna-de-pau.

No domingo,
às 16 hs. Valdevinos de Oliveira com o espetáculo "Os cenouras".

Já vi e gostei do espetáculo desses dois paspalhos, colegas desta paspalha aqui no curso de bufão e nos treinamentos circenses -- um semestre inteiro há quatro anos atrás -- lá no Espaço da Companhia do Gesto, juntamente com o agora "doutor da alegria" Luiz Igrejas, e mais os palhaços Intervalo e Muzzarela. Ah, e sem esquecer o nosso mestre dos malabares, o professor Eugenio - da Escola Nacional de Circo. Eu fiquei mais ou menos craque no diabolô.
17 hs. Oficina de circo

19 hs. Os maravilhosos artistas circenses do Teatro de Anônimo apresentam o sensacional, fenomenal, surpreendamental espetáculo "Tomara que não chova".

E tomara que não chova, porque o cirquinho não tem cobertura. Mas isso não constitui problema. Assistí "O Pregoeiro" do Márcio Libar abaixo de chuva, e o público firme, só quando não deu mais para aguentar -- artista e público -- se retiraram. Mas a maioria do público não foi embora, ficando por ali em baixo das marquises e no bar. E daí o espetáculo continuou ali em frente ao cirquinho, no espaço da Casa do Anônimo, na Rua do Mercado 45, que está sendo reconstruido depois do incêndio. Circense é artista até debaixo d'água -- literalmente.

Grupo Galpão,
de Belô, está na city, em cartaz no Teatro Villa Lobos, com o espetáculo O Inspetor Geral, de Gogol, direção do meu conterrâneo de guerra, o Paulo José. Esse menino ainda vai longe...

Il primo miracolo,
o espetáculo solo do ator gaúcho-uruguaio Roberto Birindelli na comédia de Dario Fo, voltou ao cartaz nesse findi no Teatro Maria Clara Machado, no Planetário da Gavea. Vale a pena conferir.
Eu assistí no mês passado, e o espetáculo não correspondeu a minha espectativa, mas não posso deixar de recomendar pelo texto de Dario Fo, e pelo trabalho de pesquisa gestual e de movimento do ator Roberto Birindelli.

12.9.03

A reivindicação das meninas do PETI

Trabalhar com os meninos e meninas do PETI -- Programa de de Erradicação do Trabalho Infantil -- dentro da FUNLAR foi uma longa e sofrida conquista. Tudo aconteceu em janeiro deste ano, quando durante a colônia de férias eu dei aulas para as meninas do PETI. Gostei da experiência e queria continuar trabalhando com essas meninas, mas isso não era possivel por razões várias -- de administrativas a politicas. Em fevereiro, eu fui agradávelmente surpreendida (e bota agradável nisso) com a iniciativa das meninas indo à coordenação reivindicar a permanência nas minhas aulas durante o ano todo. A partir desse fato, teve início uma série de negociações, mas sem nenhum sucesso até três mêses atrás quando foi aumentada a carga horária do Projeto Angel Vianna na instituição.

Vou ficar devendo um post sobre o trabalho que eu estou desenvolvendo com as meninas, e agora também com os meninos do PETI -- um presente raro.


Cartaz desenhado pelas crianças do PETI, em Itaguaí, no Rio de Janeiro.

9.9.03


Ecos da ópera bufa

Estupefactei, lendo essa coluna de hoje do mephistotélico Gerald Thomas, no JotaBe onde ele fala da Fernanda Montenegro e do Serginho Mamberti com o maior carinho e menciona ainda o amigo como responsável pela sua entrada no teatro. É a primeira vez que ele menciona esse fato.
A coluna me reportou há alguns cinco ou seis anos atrás, num restaurante da Prudente de Morais, em Ipanema. Estávamos eu, Fernanda e uma amiga nossa, e o Serginho veio sentar-se à nossa mesa. Conversa-vai-conversa-vem, o assunto descambou para Gerald Thomaz que acabara de separar-se da Fernandinha.
E o Mamberti, com toda a sua conhecida verve e graça, contava os detalhes de bastidores de algumas das famosas artimanhas e bufonices do GT. Eu até cheguei a pensar que o Serginho exagerava em certos aspectos, e fiquei constrangida pela Fernanda que ouvia tudo com aquela sua classe imperturbável. Hoje foi com muita surprêsa que eu lí as declarações do GT, e a prova de que o Serginho não exagerou em nada. E a atitude solidária do Serginho Mamberti vem provar mais uma vez a sua grandeza de alma.

7.9.03

Trabalho infantil

Outra matéria especial da BBC-Brasil desta semana uma matéria sobre a exploração do trabalho infantil. A reportagem assinada pela reporter Babeth Bettencourt, do Rio, é muito bem abordada trazendo entrevistas desde a Senadora Benedita da Silva a pesquisadores, professores etc e tals. Sem querer ser pessimista, não é difícil concluir que a erradicação do trabalho infantil em nosso País ainda está muito distante. A situação é das mais complexas e vai desde o desrespeito às leis a outras questões não menos graves como a prostituição e o envolvimento com o tráfico nas grandes cidades.

Business fantasiado de bem social

Esses "pesquisadores", principalmente os gringos dessas ONGS oportunistas -- business fantasiado de bem social, como diria o rapper MV Bill -- ficam enfatizando os altos salários recebidos por essas crianças para trabalhar no tráfico. Não é bem assim.
A situação é de tanta pobreza e extrema miséria que essas crianças aceitam trabalhar por qualquer salário. Eu trabalho com meninos e meninas com bolsa de estudos do PETI, e pelo que me é dado observar nessa convivência, o atraso no pagamento dessas bolsas, entre outras questões, levam muitas dessas crianças de volta às ruas, vendendo balas nos sinais.

6.9.03

Mumia subversiva

E o Matusalém Matusca, aquele subversor da ordem vigente que inventou o FLASH BLOG, está tão besta que não está mais se cabendo nas ataduras. O quarto FLASH BLOG promete repetir o sucesso dos anteriores, e vai acontecer a partir da meia noite de sexta dia 12 e rola no sábado o dia inteiro no blog da nossa querida e prestimosa Suely - A Blogueira dos Enta.
Confusão

Essas duas tresloucadas, a Saudade e a Esperança, vivem ambas na casa do Presente, quando deviam estar , é lógico, uma na casa do Passado e a outra na do Futuro. Quanto ao Presente - ah! - esse nunca está em casa.

Mario Quintana (A cor do invisivel)

5.9.03

Um presente do destino

Não escolhi trabalhar com portadores de deficiência. Tal trabalho nunca tinha passado pelos meu planos profissionais. Logo depois da minha formatura em Recuperação Motora - Terapia Atraves da Dança, na Faculdade e Escola Angel Vianna, eu estava investindo animadamente em alguns projetos voltados para a busca da minha expressão artística. Criei e coordenei durante mais de dois anos um grupo de contação de histórias Ao pé da fogueira. E, nessa época, descobri o Mestre Dácio Lima (saudosa memória), e comecei a pesquisa do clown na arte do ator. Além disso, dava muita aula aberta -- aulas gratuitas para mostrar a técnica -- entre outros aprontos.

Estou nessa atividade toda, com muitas idéias e projetos artísticos, quando recebí um segundo convite para estagiar na Fundação Municipal Lar Escola Francisco de Paula - FUNLAR, aqui em Vila Isabel. Enfim, decidí aceitar, porque eu precisava fazer um estágio profissional para cumprir as formalidades exigidas para o exercício da profissão. E, jamais esquecerei das palavras da Mestra Angel Vianna quando me disse com aquele seu jeitinho todo especial:" Olha aqui, minha filha, você está num estágio de vida que tem tudo para dar certo nesse tipo de trabalho".

Passei por várias crises de insegurança, achando que não iria aguentar nem o primeiro mês de estágio, até resolver enfrentar os desafios todos, inclusive os meus medos e preconceitos. E, a Mestra Angel acertou em cheio no seu vaticínio, e tanto que no final do terceiro mês, eu estava definitivamente envolvida e conquistada pelas possibilidades infinitas do trabalho com essas pessoas. É um trabalho muito rico. Vejo o meu trabalho como instrumento de evolução, dando outros parâmetros para me situar no mundo, com outro olhar para a vida e para a arte.

Toda a minha formação profissional -- do teatro às terapias corporais, dança, clown, etc. e tal -- me encaminhou para esse trabalho com portadores de dificuldades especiais. Amo o meu trabalho. E se existe destino, o meu já estava traçado.


Um agito na creche da FUNLAR.

4.9.03

Educação inclusiva e historinha esperta de uma mãe e professoras.

Trabalho com crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais na Fundação Lar Francisco de Paula - FUNLAR, como professora de expressão corporal contratada pela Fac. Escola Angel Vianna, e sei o avanço que significa a matricula compulsoria na rede regular de ensino. Apesar dessas conquistas significativas, ainda têm muitas etapas para serem vencidas, que vão desde o preconceito e a descriminação, ao despreparo completo do corpo docente.

A proposito, vale relatar aqui as peripécias da mãe de um aluno meu, adolescente, hoje com 14 anos, que vagou durante quatro anos sem conseguir matricular o seu filho. Ela só teve sucesso na empreitada, quando resolveu omitir no ato da matricula que o seu filho era deficiente. Foi assim que ela conseguiu matricular o seu filho numa escola pública do município. Foi descoberto pelas professoras no primeiro dia de aula, na maneira de andar e na linguagem resumida a gritos e repetições.

Esse fato chegou ao meu conhecimento através do prontuário desse aluno -- prontuário é onde se encontra todo o historico do aluno, desde a sua entrada na instituição. Lá estava relatado o depoimento das duas professoras que resolveram assumir o caso. Por razões óbvias não poderei citar o nome da escola e das professoras, mas são pessoas como elas que honram e dignificam a profissão. Copiei partes do relatorio onde elas contam a notável façanha. Eis o seu relato:

"Sua Mãe foi chamada, falou das várias terapias, sem precisar o diagnostico. Nosso trabalho foi baseado no ensaio-erro, uma vez que não dispunhamos de conhecimento para esse tipo de dificuldades, e nenhuma assessoria ou acompanhamento dos níveis intermediários. Ficavamos com ele, pegando sua mão e fazendo guardar os objetos que eram jogados no chão, repetindo: pegou-guardou. Ao final de vários "pegou-guardou", já guardava os brinquedos. Ele continúa a jogar as coisas, mas é só falar "pegou-guardou" e ele guarda.

Seu comportamento é hiper-ativo. Através do tatear algumas descobertas.
Começou a cantar músicas, repetindo a última silaba. Para ouvir histórias, alguém fica perto dele, acariciando-o levemente, e ele fica quieto. A princípio, era uma de nós que fazia isso, agora uma das crianças encarrega-se da atividade. Para ele permanecer sentado na cadeira ao merendar, é só colocar a mão no seu joelho, e ele fica.

Entramos em contato com o psicologo do João (nome fictício) que falou da importância da imposição de limites, e indicou bibliografia para consulta. Hoje, o
João é bem aceito pela turma que inclusive ajuda muito. Estamos felizes com os resultados obtidos e ansiamos por qualquer ajuda que permita que sejam melhores ainda".


Toque sutil

O que essas duas professoras não sabiam ao tocar levemente o João, era o fato de que elas estavam usando uma técnica corporal sofisticadíssima: o toque sutil -- da alemã Gerda Alexander. Essa técnica era relegada a um segundo ou terceiro plano, até o dia em que eu resolvi testar com um aluno hiper-ativo como no caso do João. A partir desse dia a eutonia da Gerda Alexander passou a ser uma das técnicas corporais mais utilizadas por mim.



Aqui é uma aula individual da Monica, nossa ex-colega do Nucleo Angel Vianna, na FUNLAR. A foto mostra uma parte da nossa sala. Na parede oposta estão os espelhos e as outras barras.

3.9.03



Por uma sociedade inclusiva

Postei aqui sobre o meu encontro com o fotografo cego Evgen Bavcar, sobre o artigo do Fabricio Dornelles O clown, o down e a fôrça do afeto, e dois dias depois deparei com uma ótima reportagem na BBC Brasil, a mais completa que eu já li sobre Síndrome de Down, com depoimentos de médicos, cientistas e outros profissionais envolvidos com o assunto. A matéria traz ainda os depoimentos de personalidades como Sebastião Salgado e D. João de Orleans e Bragança, bem como de outros pais de portadores da Síndrome de Down. E ontem, aqui no Estadão uma reportagem enfatizava as quase 150000 (cento e cincoenta mil) crianças portadoras de necessidades especiais matriculadas na rede regular de ensino, segundo dados fornecidos pelo MEC.

Sincronicidades á parte, está existindo um movimento mundial pela INCLUSÃO da pessoa portadora de deficiência. E quando conseguirmos alcançar esse alto grau de evolução humana, o aborto eugenésico, como por exemplo, o de crianças com Síndrome de Down, será visto como um passado distante.

E a educação é fundamental nesse processo evolutivo. É nas escolas, com a conscientização começando pelas crianças, no convívio com o colega portador de necessidades especiais, está o embrião que vai formar uma sociedade inclusiva.



2.9.03

Por uma educação inclusiva. Tudo a ver.
O Fantasma da Ópera

Agradeço àqueles que me aplaudiram (e não foram poucos). Na última récita então foi uma loucura. Os aplausos eram fervorosos e vinham em forma de braços para cima. Daquele palco enxerga-se tudo. Mas enxerga-se as vaias também.

Sempre deixei claro que gosto delas, das vaias. Quem tem memória (e idade para isso) pode tentar voltar ao Navio fantasma. Foram (acho) 16 minutos de lindas vaias. Mas dessa vez foi uma coisa corrosiva, organizada por um bando dissidente de uma organização séria, a Sociedade Wagneriana do Brasil. Vou deixar bem claro. Aqui existe um senhor discreto, que não faz nenhuma questão de aparecer, de fazer barulho, e que representa com toda dignidade essa instituição. Esse senhor se chama Carlos Rauscher.

Por outro lado, existe um grupo de bandalheiros, daqueles que se levantam em qualquer palestra e começam a berrar em nome próprio, fazem anúncio de si mesmos e não falam coisa com coisa. Foram eles os autores das vaias criminosas, recheadas de frases que me levaram ao ato BRINCALHÃO de tirar as calcas e mostrar a bunda. Aliás, não entendo... a imprensa carioca enlouqueceu ou desaprendeu o português? O que mais li durante a semana retrasada foi a palavra derrière. Somos mesmo um povo colonizado, só que por Lisboa, lá é que se fala francês. Deus me livre.

Pois é, a brincadeira deu em processo criminal porque algum secretário de Estado ou delegado (que sequer esteve lá) quis se promover. Será? De qualquer maneira, só posso sair dessa um pouco ferido e, ao mesmo tempo, de alma lavada pelos lindíssimos artigos de Zuenir Ventura, de Arnaldo Bloch, de Cacá Diegues, de Ziraldo, de Antonio Quinet e da Tribuna da Imprensa. Não foi fácil - nem para mim e nem para a minha advogada, dra. Leilah Borges da Costa - enfrentar aquela coisa kafkiana toda. Afinal, o Rio exporta bundas no Carnaval e o ano inteiro nas praias. Recusei-me a aceitar aquilo como crime (mesmo sendo o custo um ou dois salários mínimos) por uma questão de princípios: eu estaria abrindo precedentes perigosos. Artistas daqui em diante teriam que temer qualquer ato em seus teatros. O que seria isso? Censura?

Censura, sim. Passei por várias. Aliás, da minha ''grande amiga'' Helena Severo, a última vez em que ouvi a sua voz foi no táxi a caminho da gravação do Jô Soares. Ela devia estar com medo do que eu pudesse revelar ali. Desde então, nenhum alô, nenhum interesse em saber como havia sido lá no tribunal. São as tais ''amizades por interesse'' que rolam nesse mundo político.

Tenho me perguntado por que me chamaram para dirigir essa ópera. Todos sabem exatamente quem sou e o que faço. Minha reputação transcende fronteiras. E sabem exatamente que meu conceito e comportamento geram polêmica. Se não querem isso, por que me convidam?

Ao mesmo tempo, quando isso vira notícia, lota teatro. Todos conhecem a mídia e não se façam de tolos! Montei a mesma ópera em Weimar, sem censura alguma e com pouca polêmica. Mas com um nível de qualidade musical... E com um maestro (George Aldrecht) que realmente trocava figurinhas comigo, que sentava e discutia os pormenores de cada ária, as ênfases musicais e dramatúrgicas. Aqui, achei ter um companheiro, que, até o dia anterior à estréia, comemorou comigo no Gero (eu paguei a conta, claro), mas que só batia na mesma tecla ''sigo rigidamente a partitura do maestro Karl Böhm''. Traduzido para a encenação, seria como se eu dissesse ''vou encenar rigidamente o conceito de Hans Neunfels de 1973''. Ora, que cretinice. A História vai para frente e não para trás.

A não ser no Municipal. Lá os cabos rompem, o palco cai. Os departamentos não se comunicam, as pessoas não se ouvem e quem merece ser ouvido parece que teve sua boca calada. São coisas que não entendo.

O coro do Municipal está profundamente descontente. Estou solidário com ele. Vejam bem, já dirigi 19 óperas pelos palcos mundo afora. Só três foram aqui no Brasil. Nunca ouvi falar que não se pode usar gente do coro como solista. Mas isso virou lei lá dentro e ninguém quer discutir. Ciro Pereira, que está ali dentro há décadas, faz parte da história daquele teatro. Mas não o ouvem. E assim é. Querem conduzir aquilo com braço de ferro. Mas braço de ferro, assim como favores políticos, como todos sabemos, são coisas medíocres e que caem, seja pela corrosão da ferrugem ou pela ganância, gula e todos os outros pecados capitais.

Gerald Thomas
Jornal do Brasil
02/set/2003