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15.6.02

Peter Brook transforma HAMLET em tragicomédia

São Paulo (Reuters) - O teatrólogo inglês Peter Brook buscou ir além do drama "ser ou não ser" em sua nova montagem que estréia nesta quinta-feira em São Paulo, transformando "A Tragédia de Hamlet", um clássico de William Shakespeare, numa tragicomédia contemporânea.

Brook, tido como uma lenda viva do teatro moderno, revela o príncipe da Dinamarca como um jovem negro de dreadlocks, cuja aflição mais pungente vai além da obsessão de vingar a morte do pai. Nesta montagem, a verdadeira tragédia são os percalços que atrapalham os planos de Hamlet de chegar a seu objetivo.

Para obter esse efeito com uma estética moderna, ele conta apenas com oito atores, um tapete vermelho, algumas almofadas coloridas e uma trilha sonora feita ao vivo com alguns instrumentos, como cítara e bongô.

Essa não é a primeira incursão inventiva do diretor de 77 anos no repertório shakesperiano. O reconhecimento mundial para seu trabalho veio em 1962 justamente com "Rei Lear", através do qual se destacou por sua ênfase na movimentação física dos atores.

Vivendo em Paris desde anos 1970, onde comanda o Théâtre des Bouffes du Nord e o Centro Internacional de Criações Teatrais, ele é considerado um dos principais representantes do teatro austero, que se contrapõe ao teatro espetáculo -- voltado ao mercado e às cifras de bilheteria, como as montagens da Broadway.

Na nova versão da história de Hamlet, que chega ao Brasil encenada em francês, Brook cortou mais de 40 por cento da obra original, reduzindo-a a duas horas e meia, que passam quase despercebidas graças aos diálogos regados de humor traduzidos para o português em legendas exibidas no alto do palco.

O protagonista da peça, o negro William Nadylan, busca não apenas chocar o espectador ao surgir como um príncipe nórdico, mas também dar sua contribuição pessoal ao texto enquanto interpreta.

Nadylan é capaz de reverenciar o fantasma do pai como um verdadeiro membro da realeza, ou pular sobre a tumba de Ofélia transbordando de ira, e até se fingir de louco, mas em grande parte da peça movimenta-se mais com a informalidade de um jovem de subúrbio de qualquer grande cidade.

"Esse ator é excelente", elogiou o ator Paulo Autran à Reuters depois de assistir o ensaio aberto para convidados na tarde de quarta-feira, em São Paulo. "Não sou crítico, mas saí encantado com a peça".

"A Tragédia de Hamlet" excursionou por diversos países em 2001, sendo encenada principalmente em inglês, e foi considerada pela crítica especializada como um marco entre as inúmeras reinvenções dos textos de Shakespeare.

O espetáculo estréia no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, com ingressos esgotados. Depois viaja ao Rio de Janeiro, onde será exibido no TeatroCarlos Gomes de 20 a 22 de junho.

(Por Thiane Loureiro)

PS. Este post é uma contribuição do antenado ator Paulo Duek.

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