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4.5.03


Catarroverde -- um blog transparente

Sergio Faria manda lá no melhor estilo bufo com todas as bufonnéries, a que tem direito, brincando com as nossas ambiguidades, parodía significativamente fatos, situações do cotidiano, acontecimentos politicos -- foi o Catarroverde que detonou o famoso caso do plágio do discurso de renúncia do ACM. Faz paródia até mesmo da sua própria pessoa, revelando assim a dualidade de todo ser, ou seja a face do bufão que existe em cada um. E assim mostrando uma outra face da nossa realidade, ele vai dando o seu recado com muita manha e arte. E sem se perder na trilha, ele passa do personagem bufo ao do lord inglês com a maior desenvoltura, competência e bom humor. Um mestre.

Hoje eu sou uma admiradora incondicional do Catarroverde, mas nem sempre foi assim. E já houve um tempo em que eu ousei reclamar dos posts quando ele com a maior liberdade, carregava nas suas boufonnéries, falando de índios, anões e outros excluídos A primeira vez, depois de pensar e repensar alguns dias, pois tinha medo de levar um fora daqueles ao seu melhor estilo, mandei um cuidadoso e-mail reclamando de um post sobre índios. E para minha surprêsa, ele respondeu. E ainda para completar, educadamente. Era a deixa para um segundo e-mail, dessa vez, à cause de um post sobre anão. Depois disso, encarnei a plantonista dos excluídos, e virei freguêsa de caderninho. Depois de algum tempo, ele chegou a comentar no Catarro, um desses e-mails com essas minhas investidas.

Acabamos ficando amigos. Trocamos idéias em alguns e-mails, e ele me deu alguns toques que foram úteis posteriormente, quando em busca da minha expressão artística fui estudar as técnicas do bufão. Hoje, reavaliando as minhas atitudes, eu penso que ele teve muita elegância, paciência e educação com a anta aqui. Um perfeito gentleman.

O Ator Transparente

Eu passei a ver o Catarroverde com um outro olhar, um ôlho mais límpido, a partir do curso O ATOR TRANSPARENTE, no Nucleo de Pesquisa do Ator, da UNIRIO, realizado durante todo o ano passado. Antes disso, eu vinha de um trabalho de três anos com o Mestre Dácio Lima, O jôgo do clown no trabalho do ator, o qual foi interrompido com o seu trágico desaparecimento em janeiro do ano passado. Fiquei perdidona, ia jogar tudo fora, parei com as aulas de flauta, com tudo, até esse curso na UNIRIO.

Para chegar à transparência do ator -- a verdade do jôgo do ator, fizemos uso das técnicas do bufão e do clown. No bufão, trabalhamos as três máscaras bufas: o anão, o corcunda e o barrigudo, na busca do nosso inconsciente, o lado animal, cruel. E no estudo do clown trabalhamos a leveza da criança -- o resgate da nossa criança. E a parte teórica foi embasada por filosofos como Foucault, Adorno, entre outros, passando pelas teorias psicanalíticas de Jung, Lacan, Freud, e o teatro de Dario Fo, Jerzy Grotowski, Peter Brook, etc.

O bufão rejeitado ou condenado simboliza uma parada na nossa evolução ascendente,
diz o séríssimo filosofo Adorno. O bufão trabalha com a poética das sombras, brinca com as nossas ambiguidades -- eu sou delicada, e sou escrota. E, para quem reclamava dos pots do Catarro, me imaginem fazendo um personagem bufo -- uma anã com cotocos de braços, completamente feroz, primitiva, e das mais escatologicas, mandando ver todas. Foi um trabalho difícil em todos os níveis, a começar pelo complicado uso corporal, além de assumir o meu lado grotesco e mais o meu lado negro -- o prazer na crueldade. E, não tinha escôlha, ou assumia esse outro lado, ou desistia de tudo. Um trabalho difícil e dolorido, e a partir dele, mudei muitos dos meus valores, e esse post em homenagem ao Sergio Faria é uma prova disso.

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