Seguidores desse blog

28.2.02

Ainda ecos da coluna do Xexéo no Forum Virtual de Teatro Brasileiro

Maria Teresa Amaral, diretora, produtora, figurinista e autora de O PENHOR DESTA IGUALDADE, e uma das fundadoras e criadoras da Casa de Cultura Margarida Rey.

Nós, lá na Casa de Cultura Margarida Rey, fomos parcamente patrocinados,
pela primeira vez este ano.
Nossos ingressos, mais caros - inteira - custam hipotéticamente 15,00.
Hipoteticamente porque a maioria é promoção de 5,00 e até de 1,00. Nosso
último espetáculo foi ensaiado 5 meses, com atores que recebiam, não o
necessário para viver, infelizmente, mas recebiam. (...) E agora
ainda estamos devendo, como muitíssimos daqui do Rio, por razões que são
públicas e notórias. Envergonhados, embora a vergonha não seja nossa. (...)

Canso de ver gente procurando vaga lá no teatro, com carros novinhos ( vendi o meu velho por causa deste último espetáculo ) e depois pagando meia. Canso de ver gente, que podia não ser "convidado", entrando de graça - e a gente ainda fica feliz de ver o teatro cheio. Porque foi um sucesso nosso último espetáculo. Verdade que o teatro é
pequeno, mas teve dias de mandar gente embora. E sem associação de
espectadores, nem divulgação. E durava 3 horas! E teve gente que viu 6,5,4,3
vezes! Gente, muita gente, que nos dizia obrigada antes de sair. E estamos
falidos.

Mas voltemos aos ingressos: a maioria das pessoas que vai a maioria dos teatros paga menos que no cinema. Que se dê meio ingresso, ingresso de graça, mas que sejamos compensados por
isso e sem esperar meses pelo recebimento incerto. E que o público saiba que
aquele ingresso gratuito custa, por exemplo 30,00 ou 40,00 reais, porque
cinema de shopping custa 12,00. No teatro, temos gente, de carne e osso,
todo dia trabalhando, criando. Cada dia é um espetáculo diferente: "hand
made", donde mais caro.

Nos outros paises que conheço o teatro é caro. E quando é um pouco mais
barato é sustentado pelo governo a tempo e a hora. Se tivessemos melhores condições de trabalho, um maior número de espetáculos
seria melhor ensaiado, melhor produzido, com melhores e mais instigantes
textos. E tenho certeza que o público voltaria a ter o encanto de ir ao
teatro. Parece que na cidade de S. Paulo as condições profissionais são mais
esperançosas. Aqui, para a maioria de nós profissionais ( sem dinheiro, por
exemplo, para pagar boas aulas de corpo, dicção e canto, necessárias, quase
ininterruptamente, ao bom exercício da profissão de ator, ou para comprar
livros ) estamos longe da luz no fim do túnel. Mais perto do último que sair
apaque a luz.
Quando é que vamos dizer basta?
Maria Teresa Amaral

EDVARD VASCONCELLOS, ator da nova geração -- também sociologo, e é dele aquela sugestão da pesquisa do perfil do espectador, que eu comento no outro post -- numa réplica aqui com outro forense.

Subject: Re: Globo de Domingo - Coluna do Xexeo


É assustador as produções raclamarem de terem que dar desconto para
estudante ou idoso. Como você bem diz, uma ida ao teatro, não é só o custo do
ingresso. Normalmente é um casal que vai, mais ônibus, metrô, ou taxi, ou
gasolina mesmo, mais estacionamento, lanche ou o jantar, depois.

Sou da nova geração, mal sabia o que era teatro quinze anos atrás, mas
muito me preocupa tal situação, pois sempre se transmite uma idéia de que não há como voltar atrás e recuperar esse poder de fogo da profissão. E aí ficamos
numa encruzilhada, em que temos de um lado a poderosa Rede Globo, com seus muitos papéis para serem preenchidos pelos seus mais do que estranhos
critérios de seleção, e do outro, uma expectativa de quase mendicância, porque ao que parece, mesmo quando se tem patrocinado um espetáculo, o ator,
é em geral, o que menos ganha. O que se vê normalmente são investimentos
maçiços em grandes cenários, figurinos, equipe técnica, divulgação e os
atores ganhando salários pequenos levando, quase sempre, levando meses
para receber.

Será que ainda é possível fazer uma curva no tempo e retomar esse caminho
de quando os teatros dependiam do seu público e o público não os deixava na
mão? Hoje em dia conseguir levantar um produção já é motivo de festa...Ninguém mais consegue permanecer em espaço algum para fazer um
repertório, no entanto tem que ensaiar meses sem nada receber. E o profissional, como fica? Como se atualiza, como evolui tecnicamente sem recursos para aulas, cursos, etc.

Além disso, é justo os teatros públicos serem ocupados pelas grandes
produções, com os grandes atores e diretores? Não é abusivo o aluguel de um
teatro particular? É possível haver um denominador comum? Dúvidas, dúvidas,
dúvidas...

**********************************
FORUM VIRTUAL DE TEATRO BRASILEIRO
**********************************
ISIS BAIÃO, premiada autora teatral, autora entre outros textos de "As chupetas do Senhor Refém", antologica montagem com direção do João das Neves.

É isso aí, Maria Teresa. E tem gente que chega e fica por alí zanzando até que você apareça para dar um convite. E você dá, por puro constrangimento de dizer não. Os amigos deviam colaborar (pagando preço de classe ou meia entrada) e não onerar mais ainda. Acho que devíamos fechar a questão no seguinte: fora o(s) espetáculo(s) para convidados, convites durante a temporada só dentro de uma cota restrita. Vamos resgatar aquela famosa frase da Cacilda Becker, que é mais ou menos assim: Não me peçam de graça a única mercadoria que tenho para vender (é assim mesmo? Por favor, quem souber, me corrija). Vamos afixar a frase na bilheteria.

Só acrescentando um dado ao que você diz abaixo: com carros novinhos, sim, e quando saem do teatro, onde descolaram convites, vão jantar em restaurante caro e encaram tranquilamente uma conta tipo 50 paus por cabeça.
Abraços a todos,
Isis Baião










Um comentário:

Gabrielle Marie disse...

Preciso muito de um meio de contato com a autora ISIS BAIÃO para liberação de um de seus textos para montagem.
tel 19 32387416
19 91912779 ou e-mail gabimfm@hotmail.com
grata pela atenção.
Gabrielle