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5.1.03






Discurso de Gil é sucesso

Objetivo é fazer do ministério 'a casa da cultura popular'

Leandro Fortes (Jornal do Brasil)



Agência Brasil

Gilberto Gil


BRASÍLIA - De paletó e gravata e unhas de cerâmica na mão direita, justo a que usa para dedilhar o violão, Gilberto Gil subiu no palco do Ministério da Cultura às 15h em ponto de ontem. Diante de uma platéia basicamente formada de artistas e agentes culturais, Gil fez da cerimônia um raro show de lirismo político. O discurso do compositor baiano, cheio de figuras de linguagens, neologismos e engajamento social, conseguiu arrancar aplausos e teve um toque diferente em relação às demais cerimônias de posse. Em nove laudas, Gil girou sua bússola cultural para a luta contra a violência e pela inserção dos excluídos sociais nos planos da pasta.
No auditório lotado onde foi empossado, Gil desconstruiu com sutileza toda a história do Ministério da Cultura até aquele momento, o que provocou um desconforto quase físico em Francisco Weffort, o ministro que saía.

Ato contínuo, no pior momento da cerimônia, Weffort teve a péssima idéia de acender um charuto na mesa de autoridades. A platéia, espremida e atônita, começou a tossir em protesto. Gil passou a ler ainda mais calmamente o texto do discurso enquanto, constrangido, o ex-ministro se viu obrigado apagar o charuto e a escondê-lo num cinzeiro, sob a mesa.

Contraponto ao longo e burocrático discurso de despedida de Weffort, a fala de Gil enveredou pelos floreios e pela crítica direta - mas elegante. Ele se autodenominou um ''negro mestiço'' para falar do sonho de sua geração e da tarefa de fazer do ministério uma casa da cultura popular. Criticou a ferocidade do ''deus-mercado'' e prometeu acabar com a distância que, segundo ele, separa a pasta da Cultura do dia-a-dia dos brasileiros.

- Desta perspectivas, as ações deverão ser entendidas como exercícios de antropologia aplicada - disse.

Na primeira fileira, o senador baiano eleito Antônio Carlos Magalhães (PFL) era mais um numa platéia que, aos poucos, foi sendo dominada pelo ritmo do discurso. Gil disse que pretende se posicionar estrategicamente no ''campo magnético'' do governo Lula, e que o ''escândalo social'' provocado pela má distribuição de renda no país está na origem da violência.

- Isso explica, basicamente, o caráter que a violência urbana assumiu recentemente entre nós, subvertendo, inclusive, os antigos valores da bandidagem brasileira - disse Gil, arrancando risadas.

Ele disse que pretende rever a ações do ministério, inclusive a lei de incentivos fiscais - a chamada Lei Rouanet - mudando a política de investimentos no setor cultural. Prometeu voltar-se para os setores populares e tirar das grandes empresas e dos centros desenvolvidos a primazia sobre os financiamentos culturais.

- Aqui será o espaço da memória e da invenção. Viva o povo brasileiro! - bradou Gil ao terminar o discurso.

Jornal do Brasil
[03/JAN/2003]



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