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23.9.03

O ATOR E O TEATRO DO SÉCULO 21

Quem lê esse blog sabe que desde a sua criação em dezembro 2001, eu venho batendo na mesma tecla, enfatizando o trabalho do ator do século 21, e o novo fazer teatral. E o Teatro ETC. & Tal sempre seguiu apoiando e destacando os espetáculos alinhados com as minhas idéias. Agora que os archives voltaram, eu andei relendo o que escreví nesses dois anos, a propósito de uma matéria que saiu aqui no Estadão -- uma entrevista com Hans-Thies Lehmann, professor da Universidade de Frankfurt, um dos mais importantes teóricos do teatro europeu. Ele veio ao Brasil para realizar um trabalho de uma semana, em São Paulo, com a Companhia do Latão, sobre a obra de Heiner Müller. Destaquei um trecho da sua entrevista pertinente com o meu pensamento:

(...)" Não estou seguro de que vá seguir existindo a representação teatral do jeito que a gente conhece. Desde Brecht, há a idéia de ir além da apresentação teatral, de acrescentar palestras, discussões, manifestações. Eu acho que a apresentação deixará de ser o centro do fenômeno teatral. Como a sociedade de comunicação produz uma quantidade inacreditável de representações, o teatro tem de procurar sua especificidade, que está na possibilidade de estabelecer comunicação, diálogo. "

Há muito a representação teatral no Brasil não é aquela "do jeito que a gente conhece", conforme refletiu o teórico e pensador alemão Hans- Thies Lehmann. O fazer teatral vem se modificando aqui no nosso País há alguns anos, e notadamente, a partir do final dos anos 80, havendo muitas formas de fazer teatro, dentro do teatro. Nenhuma outra arte incorporou tantas linguagens. Há outras formas de interpretação teatral, seja fazendo dança, mímica, circo, performance, teatro de marionettes, show -- o teatro abraça estas expressões artísticas num outro tipo de jôgo. O teatro é a essencia de tudo, e o jôgo teatral vai estar sempre presente, seja na dança, no clown, no mímico, no performer, etc. E o que eu quero dizer é que esse mix teatro, dança, circo, performance e que tais, é uma outra forma de fazer teatro dentro do teatro.

O fazer teatral é que vem mudando ao longo desses anos, ao ocupar outros espaços não convencionais de teatro, ao abandonar o palco italiano e a platéia convencional, e assim rompendo com algumas das mais importantes convenções do teatro como espetáculo. O teatro vai ocupar outros espaços, indo para as ruas, parques, praias, praças, calçadão, a bordo de avião, ônibus, barca, metrô, etc., mas o que vai prevalecer sempre em qualquer espaço é a arte da representação, da comunicação. Acho que é por aí, a reflexão...

E quando eu falo aqui desde a abertura desse blog -- vejam os archives -- no ator do novo milênio, estou falando de uma geração que está surgindo agora ávida de conhecimentos em busca da sua identidade artística. Eu sou de outra geração, mas tenho convivido muito com eles nesse longo aprendizado em busca da minha expressão artística.

E, essa nova geração, na procura da sua expressão, estuda técnicas de clown e outras artes circenses com os artistas do Teatro de Anonimo na Fundição Progresso; cursou a Escola Nacional de Circo; fez cursos de clown com o Mestre Dácio Lima (saudosa memória); curso de bufão com a Mestra Juliana Jardim; os cursos de clown, mímesis corpórea e outros do grupo LUME da UNICAMP; os cursos de dança contemporânea da Faculdade e Escola Angel Vianna; o curso de teatro da UNIRIO, UFRJ e CAL. Essa geração, está se preparando para dar o seu recado sem ficar presa a nenhuma dessas técnicas. Ao contrário, serve-se delas para buscar a sua expressão artística, quer seja nos espaços convencionais de teatro, ou fora deles.
O ator do século 21, rompe com as convenções do mundo do espetáculo, vai ao encontro do espectador, e onde o encontra, ele cria um palco, abre a roda e manda ver.

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