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24.11.03


Não precisa clicar. Aí em baixo, o relato na íntegra.

A Loucura do Rei George
Londres, 20/11/2003 - Estou acabando de chegar da passeata anti-Bush no centro de Londres. Marcada para as 14h, ela acabou sendo atrasada de propósito pela polícia só para confundir todo mundo.
“The madness of King George” é uma peça e um filme belíssimo de autoria de Allan Bennett, que relata até que ponto (alegoricamente, é claro) o poder pode criar alucinações e criar o isolamento. Pois, quem está em
Londres por esses dias não deve estar acreditando que isso aqui não é um estado policial: são dezoito mil policiais da Metropolitan Police, fora o que tem de Scotland Yard disfarçado de mendigo, e de MI5, MI6, SAS, e as "agencies" americanas, que já estão em solo há uma semana, como os Secret Service Agents, a CIA operational, os Tactical Marines, o NSA, e vai lá uma longa lista que nem mesmo o Pentágono sabe mais listar. E tudo isso a um custo de cinco milhões de libras!!!!!
Vendo o banquete que a rainha ofereceu a George Bush ontem à noite (e a total falta de modos com que o cowboy se comportou nessa histórica “state visit” que lhe dá direito a morar dentro do Buckingham Palace), e tomando o inesperado speech de Tony Blair de que a Grã Bretanha “não viraria” o 51º estado dos EUA (porque ele disse isso, se ninguém perguntou?), eu só posso supor que Bush deve estar em total síndrome de loucura, assim como o Rei George e, quem sabe, quer sim anexar a Grã Bretanha. Afinal, Adolf anexou a sua nativa Áustria (em Graz) à Alemanha. Não, claro que não. São delírios teatrais.
Mas quais serão os delírios de George Bush? Afinal, até agora as perguntas cruciais não foram respondidas. Onde estão as armas de destruição em massa? Onde estão os laboratórios de armas bioquímicas?
Saddam era um ditador, sem dúvida. Tratava seu povo tremendamente mal, assim como é proprio dos ditadores. Mas isso seria para o Tribunal de Haia julgar, assim como estão fazendo com Slobodan Milosevic, não é? Será que George W. tem um feudo oedipiano a disputar com o pai, George Bush senior, que não conseguiu capturá-lo? É uma briga de família então? Será que ele – Bush filho, não entende a retórica que rola entre os próprios países árabes e que Saddam podia estar blefando sobre ter ou não ter armamentos poderosos, sá pra se ganhar perante aos outros?
Esse jogo é delicado e faz parte de uma cultura que entendemos pouco. Ou melhor, entendíamos. Graças a política invasora, guerreira de Bush, agora ela será um pesadelo constante em nossas vidas, pois está se criando (pelo menos) mil homens-bomba por dia nos países árabes.
Na marcha de hoje conversei com atores, gente que veio até da Alemanha e Itália. E, no que diz respeito aos milhares de britânicos que estavam lá aos urros mais profundos de ódio pela presença de Bush no país, um grupo fantasiado de prisioneiros talibãs, algemados, encapuzados e amordaçados (foi dificil falar com algum deles no meio daquelas cem mil pessoas, mas falei!), deixaram bem claro que eles não estavam lá somente para protestar contra Bush, mas também contra Blair.
Se a Inglaterra é aquela terra de loucos para onde o Príncipe da Dinamarca (Hamlet) é levado quando pira, ela ficou mais louca ainda essa semana com a presença de um cowboy despreparado, cujo único interesse, sabidamente é o lucro, o petróleo, o domínio total geopolítico e um sadismo que se lê em todas as suas expressões (está no seu sorrisinho macabro quando termina uma frase e espera que a claque o aplauda). É macabro.
Vê-lo aqui, na terra em que Cromwell e Disrealy e Shakespeare e Marlowe e Churchill e Chaplin e Orwell e Huxley criaram o que criaram a partir de um “problema” tão profundo e tão existencialista, é triste ver um idiota com sotaque texano trazer respostas tão simplórias e tão sangrentas.
Gerald Thomas

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