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1.3.02

Assunto: [forum_teatro] Cortesia é bicho papão?
Data: 28/02/2002 23:28:39 Hora padrão leste da Am. Sul
From: (Vitor Fraga)
To: forum_teatro

Acho que quem faz teatro hoje em dia acaba caindo no paradoxo do ovo ou da galinha.
Gostaria de fazer apenas algumas considerações:

1) Será que diminuir ou extinguir os convites é a solução para valorizar nosso trabalho?

2) Não sei se vivo uma realidade diferente, mas a maioria dos atores que conheço nem carro têm, e dificilmente gastariam cinqüenta reais por cabeça em um jantar.

3) Já a algum tempo não escuto falar em ingresso para classe.E como atores não têm direito a meia entrada fica difícil chegar na bilheteria e tentar pagar meia.

4) A maioria das produções paga muito mal aos atores. E considerando que com o seu cachê você não consegue pagar o ingresso do espetáculo do seu colega (Que por sua vez também não consegue pagar o ingresso do seu), não vejo nada demais nessa troca de gentilezas.

5) Se eu recebo um cachê que não dá para pagar nem a entrada do meu próprio espetáculo, o produtor desse espetáculo deveria ter vergonha de barrar algum convidado meu.

6) Antes de se pensar em moralizar a profissão acabando com meias entradas ou cortesias, deveríamos pensar em valorizar o profissional que todos os dias dá seu suor, e sua emoção para fazer o espetáculo acontecer.

Na hierarquia do teatro o Autor é um profissional e precisa receber, o Iluminador, o Operador de Som, o Maquinista, o Figurinista, todos são profissionais e na maioria das vezes recebem mais do que o ator, sempre relegado a categoria de "amador" ou seja "aquele que tem que fazer por amor". Podemos sim afixar a frase da Cacilda Becker na bilheteria. Mas deveríamos antes afixa-la no borderô.
Fala-se no quanto é triste que o público pague um ingresso de cinema, e não pague para ver um grupo de pessoas atuar ao vivo. Se estes que fazem ao vivo não são valorizados pelos seus pares, quem sou eu para criticar o público?

Um Grande Abraço
Vitor Fraga
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Assunto: [forum_teatro] (unknown)
Data: 01/03/2002 00:34:38 Hora padrão leste da Am. Sul
From: (Igo Ribeiro)
To: forum_teatro

A COISA VAI MAL, MINHA GENTE, MUITO MAL...

Tenho sido acometido ultimamente de um ódio quase que xiita da classe artística, sem exceções: não tenho poupado atores, diretores, músicos, bailarinos e poetas. Ninguém. Tenho tido delírios noturnos de um homicídio lento e doloroso, de um massacre coletivo. Meu ódio aumenta quando não posso tomar uma atitude fria e distanciada, já que sou ator formado e faço parte deste "time". Ou melhor, não faço. Mesmo que eu queira.

Deixe eu me explicar: faço parte de um grupo que escolheu um caminho - o único que acredito possível - lento e árduo para se autoproclamar artista: fiz uma faculdade. Que muito pouca gente que se diz apreciadora de teatro conhece: a Uni-Rio. Ali, durante quatro anos, estudamos o teatro e a arte da representação diariamente e passamos por vários níveis de aprendizado para subir ao palco. Estudamos História da Arte, do Teatro Moderno, Estética Clássica, Psicologia, Artes Plásticas, Folclore, Técnicas de Expressão Vocal e lemos, lemos muito.
Quando nos formamos, estamos aptos para encarar qualquer desafio e derramar nossos talentos pelos palcos e telas de todo o país e do mundo, mas, nos faltou uma aula: educação física. Esquecemo-nos de ficar com o corpinho perfeito. Demos tanto valor aos livros e conceitos teatrais que nossos corpinhos não nos acompanharam.

Alguns colegas de faculdade com o corpo bonitinho até têm conseguido um ou outro trabalho na tv, mas nunca como protagonistas, porque, infelizmente, nos anos de estudo, adquiriram algum talento, coisa que muito dificulta para que você consiga um bom papel numa novela.

Eu achava que este fenômeno acéfalo era próprio da televisão e que o teatro era um templo inatingível e indomável; claro que sempre existiram espetáculos absurdamente comerciais que lotaram salas com rostos conhecidos e "comediantes" vulgares que tinham como única função fazer rir um público que se contentava com um texto chulo e uma interpretação simplória e caricata. Mas isto era uma parcela muito insignificante. Porém, o "templo teatral" tem sido profanado por uma horda de rostinhos bonitos, corpos perfeitos e inexperientes de todos os tipos que juram amar ao teatro sobre todas as coisas.

Até diretores que por muito tempo respeitei e admirei têm se apoiado no sucesso destes "artistas" para obter mais sucesso ainda ( $$$ ) em suas peças. A grande maioria dos espetáculos oferecidos e indicados ( ! ) nas últimas temporadas fazem parte deste fenômeno. Galãs sorridentes e mocinhas carismáticas, corpos bonitos, nu artístico, texto consagrado ou de fácil assimilação, nomes conhecidos na ficha técnica, muita grana de um patrocínio ou incentivo cultural cruel e mafioso e... voilá: sucesso garantido! O público ama, a crítica elogia, a mídia dá espaço demais e os verdadeiros artistas estão na platéia ( se tiverem grana pro ingresso ) ou trabalhando atrás de um balcão de shopping center.

Tenho conversado com alguns amigos que também se formaram e nenhum está trabalhando, não em teatro. São animadores infantis ( que ódio desta profissão, quem inventou tinha que levar um tiro na testa! ), professores de aulinhas de teatro em cursinhos de pouca repercussão, fazem "projeto escola" ( antes, a morte! ), trabalham em telemarketing, pensam em fazer concurso público ou estão desempregados mesmo. Todos assistindo pasmos ao nosso espaço sendo invadido e ocupado por indivíduos que nunca poderiam desempenhar a função, simplesmente porque não estão habilitados. Um médico não opera sem seus anos de estudo, sem residência, diploma, habilidade. Com um ator não poderia ser diferente. E não é.

Vivemos num país onde qualquer pessoa se torna notória do dia pra noite; basta ser político, piranha, traficante, jogador de futebol ou ator de novela. Não importa o seu passado, sua índole, seu talento, se você matou sua família e foi ao cinema ou se tem pacto com o demo: tá na mídia, tá valendo.

A coisa vai mal, muito mal e a tendência é piorar. E quem tiver soluções, dicas, ou qualquer luz para esta situação, que aja rápido. Espalhe sua indignação por emails, fax, fanzines, ondas piratas, telepatia, cartas aos jornais ou código morse. Vale tudo pra salvar o planeta. A arte agradece.


Ps: Igo Ribeiro é ator, diretor, autor, coreógrafo de teatro, professor de interpretaçao, acrobata aéreo, dublador desempregado e tá pensando em trabalhar na CeA ou mudar de país.

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