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13.10.03

A tradição da corda no Círio de Nazaré

Os fotógrafos gaúchos Fabio Del Re e Lucas Moura estiveram no ano passado na Festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará. Não se preocuparam em registrar o evento em si, e quiseram antes perceber o que acontecia pela cidade, como ela se transformava, como reagiam seus moradores e turistas. Esse trabalho resultou em uma exposição com 50 fotos em preto-e-branco, expostas durante todo o mês passado na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre.

A festa do Círio de Nazaré se realiza há mais de duzentos anos. Está vinculada a uma lenda, de raízes lusas, sobre uma imagem da Virgem que, à noite, misteriosamente, se transportava sozinha de um ponto a outro. A romaria ocorria à noite - daí o círio ("vela", do latim cereus). Na metade do século 19, depois de uma chuva que apagou as velas e deixou todo mundo no escuro, a marcha foi transferida para o dia.

A tradição da corda surgiu na festa em que atolou a carroça que conduzia a imagem da santa. O carro teve que ser puxado por uma corda de embarcação. Desde então, a corda se integrou à festa.

Para conseguir um lugar na corda, os primeiros romeiros chegam à Catedral da Sé por volta das três da madrugada. A procissão, que só se inicia pela manhã, consiste em caminhar - em um empurra-empurra, de pés descalços - em fila indiana, sem soltar a mão da corda, homens e mulheres suados, ao longo de horas, roçando os corpos uns nos outros. No final da marcha, a corda é destruída e cada pessoa leva consigo um fiapo.

- A igreja não gosta - conta Del Re. - Já tentaram proibir, mas o povo insiste.
Lucas e Del Re não pegaram na corda, mas tiveram direito a fios que sobraram.

- As pessoas são muito generosas, diz Del Re, durante a festa, as portas ficam sempre abertas e as pessoas te convidam para almoçar.

- É uma festa onde a gente se envaidece de ser brasileiro - entusiasma-se Lucas.

Este post é uma homenagem à professora paraense Maria Elisa Guimarães.

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