Seguidores desse blog

8.3.03

A diretora Maria Teresa Amaral responde aos "gênios da Broduey"

Como ando dando rumos novos a minha vida, leio o forum de teatro, mas pouco me pronuncio. Estou como que em hiato.

Mas me pareceu cumplicidade se eu não escrevesse sobre o meu repúdio, escândalo, e desprezo às palavras citadas, neste forum, a respeito de um teatro que o público não gosta, porque pendura pessoas no lustre e as faz berrar pelos chãos. Alicerçados no alto da sua ignorâncias, os ditos gênios da Broduvey, tão aguerridos que já deveriam estar nas fronteiras do Iraque babando, não entenderam ainda que a questão é como se usa o plano alto, o plano baixo, os berros ou o lustre: bem ou mal, com competência ou não. Quem usar sabendo sua profissão vai ter o público gostando.

Aliás tem gente que vai todo ano a Nova York, Londres e não aprende nem a montar musical careta. Cada erro técnico que a gente vê, meus deuses! Tem que prestar atenção pra copiar direito. Eu falo dos que fingem que não copiam tudinho, porque os outros tem os gringos na cola pra fazer tudo igualzinho.
E o Brasil, que podia ser o pais dos musicais com cheiro de louro, canela, outros temperos - tem boa música, já tem bons cantores-atores e bons bailarinos. É só juntar e inventar!

Mas, por falar em peça que, segundo estes senhores, não valeria absolutamente a pena montar, alguém viu 4.48 Psychose, com Isabelle Huppert, em S.Paulo? Eu vi na França, queria muito ir de novo, mas os ingressos acabaram em pouquissimas horas. Gostaria de saber o que acharam, porque foi das maiores emoções teatrais que eu tive nos últimos anos. Um deslumbramento.
Abraços aos que gritam e se penduram nos lustres com competência e emoção, ou procurando pelas duas.
Maria Teresa Amaral

PS. Esse e-mail foi postado dia 1/03/2002 no forum de teatro ( está rolando há duas semanas, uma acirrada discussão sobre a profissão de ator ) pela diretora Maria Teresa Amaral, atualmente morando em Paris, e de passagem pelo Rio de Janeiro. No final do ano passado, ela alugou o seu teatro, a Casa de Cultura Margarida Rey, em Copacabana) e saiu do País. Na ocasião da sua despedida, ela escreveu esse contundente depoimento sobre as razões que a obrigaram a abandonar todos os seus projetos de teatro.

FAMILIA QUE SE MUDA

Aluga-se a Casa de Cultura Margarida Rey, teatro com de 60 a 80 lugares, em Copacabana, projeto de iluminação feito por Jorginho de Carvalho, de modo que qualquer lugar do espaço cênico possa ser iluminado, porque as cadeiras e o palco são móveis. Quatro ares refrigerados, sendo que dois funcionando - o que já provoca reclamações da plateia, por frio demasiado. Quem conhece o lugar sabe com quanto amor foi feito e com quanto profissionalismo foi trabalhado.

(...) Não se pode trabalhar em teatro vendendo a cada vez um apartamento.
Alhures vamos, talvez, continuar a fazer teatro, mas pensamos, se preciso for, em nos dedicar únicamente à jardinagem. Preferimos o trato de flores, pomares e outras plantas à vida de mendicância, que o teatro nos obrigou a levar, nesta mui amada cidade, embora pai e avô nos tivessem deixado alguns haveres.
Levaremos conosco a presença solidária de todos os que trabalharam conosco, da categoria, que nos prestigiou, e do público, que já tinhamos formado amigos, apesar do descaso da maioria da imprensa, e dos assessores de imprensa.

É que trabalhamos, por assim dizer, num "nicho" que só sobrevive, no mundo inteiro, patrocinado pelo estado: o teatro profissional de grupo, com sede para o seu trabalho, cuidado de produção e tempo de ensaio limitado sòmente pela necessidade do espetáculo. Ora sabemos que não é este o caso nesta cidade, neste estado.O ótimo grupo, que conseguimos, depois de 5 anos de afinco continua junto no sonho de voltar a ver-se noutro lugar, noutro país.
A Companhia Instável de Teatro atravessa um tempo de instabilidade.
Mas nós, de verdade, estamos doídos, mas aliviados e cheios de esperança. Como quando um caso de amor se acaba e nos sentimos vazios mas plenos de liberdade e portas que se abrem.
Já nem estamos mais aqui - a cabeça longe e o corpo que tá indo.
Abraços
Maria Teresa Amaral
( que a vida inteira gostou de queimar os navios, pra nunca ter como voltar )."

Nenhum comentário: