Seguidores desse blog

23.4.03

A homenagem do adeus para Mauro Rasi

Conhecí o Mauro Rasi no final dos anos setenta através da atriz Patricia Travassos, integrante do elenco de Trate-me Leão, o terceiro espetáculo do grupo Asdrubal Trouxe o Trombone. Estávamos numa festa em casa de amigos, e a Patricia que estava sem carro naquele dia, me convidou para irmos até o Cosme Velho para buscar um amigo dela, um paulista que estava morando no Rio. Era o Mauro Rasi.

Voltamos os três para a festa. Eu e o Mauro, calibradíssimos, com tudo o que tinhamos direito, muito alegrinhos e satisfeitos, fomos dos ultimos a sair dessa festa. E na saída, ao invés de nos dirigirmos para o meu carro, passamos por ele, e nem olhamos, como coisa que não tivesse nada a ver conosco, e continuamos andando, sem que nenhum de nós dois pronunciasse qualquer palavra. Nem precisava. Estávamos sintonizados na mesma onda, vibrávamos no mesmo diapasão, e a palavra era desnecessária, naquele momento.

E assim, silenciosos, ficamos andando de madrugada pelas ruas desertas de Ipanema pelo simples prazer de andar, sentindo o cheiro, os ruidos, os sons da madrugada, e curtindo a companhia um do outro, como se fossemos amigos de infância. Às vezes, ele acelerava e ia na frente, outras vezes, eu me adiantava, mas estávamos sempre juntos, e esse lance era um simples jôgo que estabelecemos para sacar a nossa ligação em determinados momentos.

Teve um gesto inesquecível do Mauro quando estávamos passando em frente a um muro com grossas grades de ferro, e daí ele levantou um braço e foi passando a mão espalmada por cada uma daquelas grades, produzindo um efeito sonoro. E assim como duas crianças -- livres, leves e soltas, continuamos o nosso passeio na madrugada, e quando nos demos conta já estavamos em pleno Canal, quasi chegando no Leblon. Dalí, voltamos no mesmo clima até a rua onde o meu fusquinha nos aguardava.

Esse nosso encontro originou uma bela amizade, nem longa e nem duradoura, mas muito intensa enquanto durou. E tanto, que algum tempo depois eu fui responsável pela divulgação e a promoção (promoter na linguagem atual ) da primeira peça do Mauro apresentada aqui no Rio -- um monólogo. A vida nos afastou, e há muito tempo que eu não via o Mauro, mas acompanhava a sua vida pelas notícias dos jornais. No meio teatral, acontece muito disso, a gente convive uma determinada época, em determinado trabalho e depois a gente se separa. A gente volta a se encontrar em outro trabalho, ou não.

Hoje, eu estou postando esse texto aqui com uma imensa tristeza e uma dolorida saudade do Mauro, tendo na minha memoria emotiva a imagem muito vívida daquele menino lindo e esperto do passeio naquela madrugada. Esse post, além de uma homenagem, é para dizer da importância da nossa convivência e da minha gratidão pelo quanto eu aprendí com ele.

Nenhum comentário: