Seguidores desse blog

6.4.03


Se vocês só tivessem um dia a mais para viver, fariam o quê?

Eu acordaria bem cedo pegaria o primeiro avião para Porto Alegre, e iria me despedir da minha Mãe, de toda a minha família e os meus amigos gaúchos, e estaria pegando o avião de volta ao meio dia. Ainda de Porto Alegre, telefonaria ao homem que eu amo fazendo todas as declarações inimagináveis, e marcando o nosso encontro derradeiro. Periga ele não acreditar, e é bem provável que não acredite, pensando que é mais uma armação. Ficaria muito triste, mas conformada, imaginado que ele iria ficar louco da vida, só em pensar que eu o surprendera pela última vez com o maior apronto de todos, do qual, ele não teria a menor chance de revide.

Chegando á tarde no Rio, do aeroporto eu iria direto para o Largo da Carioca. E enfim, teria a ousadia e a coragem suficiente para realizar o meu maior sonho de consumo artístico-cultural-existencial:
uma performance clownesca no Largo da Carioca, disputando público com o Ligeirinho que vende catuaba e dá saltos mortais, com o atleta atirador de facas, com o mágico que transforma uma folha de jornal em nota de cincoenta reais, com o tocador de sanfona, e com toda aquela galera de artistas populares. Sem figurino e maquiage especiais, usando a mesma roupa que eu saíra de casa. Com um detalhe: pés descalços (meu estilo performático) e a ponta do meu nariz pintada com batom vermelho. Como acessório, o meu chapéu coco de feltro preto com uma rosa vermelha plantada no cocoruto, para ser usado na performance, e depois passar ao público no final. Bom demais.

Do Largo da Carioca, faria um passeio clownesco até o calçadão da Rua Uruguaiana com a Sete de Setembro, em frente ao MacDonald's, e com a ajuda dos meninos de rua (daria a eles o que eu arrecadasse passando o chapéu). E desta vez, uma performance só com o uso corporal, sem texto, uma palhaça que se contorce tanto que não consegue voltar ao normal, e vira uma estátua toda retorcida. A estátua vai movimentar sòmente a parte que for tocada -- um leve toque em alguma parte do seu corpo, até ir voltando ao normal. As crianças adoram. Os grandinhos sacaneiam. Ia ser o máximo se encontrasse alguns colegas do curso de bufão na UNIRIO que baixam ali, ou os que fizeram as oficinas e o estagio com o Mestre Dacio Lima (saudosa memória).
Acabada a performance na Uruguaiana, faria outro passeio clownesco até a Av. Rio Branco, torcendo para não encontrar pelo caminho aqueles perigosos confrontos entre guardas e camelôs.

Apanharia um taxi na Rio Branco, seguindo direto para o jornal "O Globo", onde subiria até o quarto andar. Adentraria a redação na performance clownesca intitulada " Em busca da autora perdida ". Em cada cabine, em cada colega de redação a pergunta seria mais ou menos essa: Onde eu encontro a autora de "Um, dois três... já!" e "Sapomorfose" que ganhou o Prêmio Mambembe de Teatro Infantil?. Repetições da pergunta, e muitos improvisos pertinentes e impertinentes até encontrar alguém que soubesse a resposta, e me encaminhasse ao Caderno de Informática e à sua editora, e à autora procurada: Cora Rónai! E se ninguém soubesse a resposta, eu teria uma ótima deixa para uma exarcebada improvisação. O ideal seria a performance em cima dos textos, mas como eu não teria tempo pra estudar, inventaria essa, e assim iria me despedir e conhecer pessoalmente, a minha querida amiga blogueira, e posaria ao seu lado, para o InternETC. Sorry, gALLera!

Da redação de O Globo, eu seguiria direto para uma performance na Cinelandia, começando nas escadarias da Câmara com um personagem dramatico, um texto de Zaratustra que eu interpretei na Divina Comedia de Dante, no MAM -- espetaculo dirigido pela diretora e coreografa Regina Miranda). Dali o público seria conduzido, ainda dentro da performance, até as escadarias do Teatro Municipal, dando continuação com outros textos, ou o que pintasse de acôrdo com a reação do público. A performance final seria botar o povo todo para cantar e dançar numa grande roda de ciranda, e outras danças populares na praça da Cinelândia, em frente ao Amarelinho. Nessas adjacências, seguramente deveria encontrar alguns dos meus colegas e amigos que viriam participar da roda. E assim acabaria as minhas ultimas vinte e quatro horas, numa grande celebração à vida, à arte e a cultura popular brasileira.

Nenhum comentário: